LITERATURA INVESTIGATIVA

Ilana Casoy








SERIAL KILLER
Louco ou Cruel?












   

© 2004, WVC Editora
Um selo da Madras Editora LTDA.

Editor:
Wagner Veneziani Costa

Produção e Capa: 
Equipe Técnica Madras

Ilustração da Capa: 
Equipe Técnica Madras

Foto da Capa: 
Roberto Setton

Revisão:
Wilson Ryoji Imoto
Rita Sorrocha

CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

C 334s 
6.ed.

Casoy, Ilana, 1960-
Serial killer : louco ou cruel? / Ilana Casoy. — 6.ed. — São Paulo : Madras, 2004

ISBN 85-7374-049-9

1. Homicídios em série - Estudo de casos. I. Título.

04-0185.  CDD 364.1523
CDU 343.611

26.01.04  27.01.04  005367


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CCOONNTTRRAA  CCAAPPAA 
SERIAL KILLER: Louco ou Cruel? 

Cabeça de Matador – “O impulso criminoso, o desejo de matar, os
homicídios múltiplos, o caçador e o caçado, a vítima e o algoz... No caso da
pesquisa de Ilana Casoy, temos casos específicos, nomes, histórias, atos, autor,
quem foi?, relação das vítimas, época dos crimes, modus operandi e a psicótica
assinatura pessoal na cena do crime, marca registrada de cada um. Assusta
saber que serial killer existe em profusão na sociedade... Como não existem
monstros, é um desfile incessante de parte da raça humana. Ilana Casoy
montou essa passarela com precisão de cirurgia para nos apresentar a coletânea
intrigante... a autora que experimentou a clausura para produzir este trabalho
mergulha na cabeça dos matadores... Seja bem-vinda ao mundo dos que se
dedicam à palavra escrita...”
Percival Souza

OORREELLHHAASS  DDOO  LLIIVVRROO 

Primeira coletânea sobre serial killers elaborada por uma escritora brasileira
aborda com maestria e sem julgo a mente, a investigação e o perfil de frios e
perversos assassinos e suas vítimas. Saber que Psicose de Hitchocock foi baseado
na vida de Ed Gein, que Theodore Bundy era o charmoso advogado que
assassinava hediondamente mulheres, que o pai de Jeffrey Dahmer quis doar o
cérebro de seu filho, pois acreditava na possibilidade de haver alguma
explicação física ou genética para justificar seu canibalismo e John Wayne Gacy,
que foi tesoureiro do Partido Democrata, tinha como paixão seviciar, torturar e
matar rapazes... Com certeza você enveredará num mundo absolutamente
desconhecido, misterioso e desconcertante.

Ilana Casoy, formada em Administração de
Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, dedicou os
últimos dois anos a pesquisar serial killers. Sua primeira
obra inclui aspectos gerais e psicológicos dos mais
famosos serial killers, passando pelo perfil criminal, pela
instigação do FBI... e aborda quinze casos
internacionais dentre dezenas de pesquisados. Com a
preciosa ajuda da Justiça e da Polícia Brasileira, seu
próximo livros já está em andamento.


Este livro é dedicado às vítimas conhecidas e
desconhecidas de assassinos loucos ou cruéis, cujas
histórias de sofrimento e morte só podemos adivinhar. É
dedicado também aos seus pais, filhos, companheiros de
vida e amigos, que nunca tiveram a chance de se despedir...
Ilana Casoy


Índice

PREFÁCIO
Cabeça de Matador

QUEM É UM SERIAL KILLER?
Quem é a Vítima?
Aspectos Gerais e Psicológicos 
Controle
Dissociação
Empatia
Intimidade
Repetição ou Reencenação
Abuso na Infância e Outras Características
Mitos e Crenças
Todos os Serial Killers são Homens?
Serial Killers são Loucos?
Serial Killers têm Aparência Estranha?
Serial Killers têm a Mesma Motivação?
Serial Killers têm Problemas com Figuras Femininas?
Serial Killers são Abundantes em Nossa Sociedade?
Perfil Criminal — Arma Importante na Investigação
Perfil Criminal — é Ciência, não é Magia!
FBI — um Passo à Frente na Investigação Criminal
Perfil do Criminoso
Jack, o Estripador
Adolf Hitler
O Unabomber
O Estrangulador de Boston
A Investigação do FBI
Matéria-Prima para o Perfil
Processo de Decisão Modelo
Avaliação do Crime
Perfil Criminal 
A Investigação
A Prisão
Organizados e Desorganizados

Psicologia Investigativa
Método de David Canter
Coerência Interpessoal
Importância da Hora e Local
Características Criminais
Carreira Criminal
Avaliação Forense
Gráfico do Campo de Ação do “Vagabundo”
Gráfico do Campo de Ação do “Viajante”
Método de Brent Turvey
Análise Forense Questionável
Vitimologia
Características da Cena do Crime
Características do Transgressor
Utilização do BEA
Caso Ilustrativo de Análise pelo Método BEA
Análise da Cena do Crime 
Modus Operandi — M.O
Assinatura
Afinal, Qual a Diferença?
Exemplos Reais
Ronnie Shelton
David Vasquez
Encenação
Exemplo Real de Encenação

CASOS DA VIDA REAL
Ed Gein — Uma Inspiração para Hitchcock
Ivan Marko Milat — O Assassino de Mochileiros
Theodore Bundy — O Cidadão Acima de Qualquer Suspeita
Jeffrey Dahmer — O Mais Famoso Canibal Americano
Paul Bernardo e Karla Homolka — “Ken e Barbie” Brincando de Matar
Edmund Kemper — O Matador de Colegiais
John Wayne Gacy — O Palhaço Assassino
Andrei Chikatilo — O “Açougueiro” Russo 
Leonard Lake e Charles Ng — Uma Dupla Letal
Albert Fish — O Vovô que Comia Criancinhas 
Arthur Shawcross — Libertado para Matar
Aileen Wuornos — A Prostituta Mortal
Richard Trenton Chase — O Vampiro de Sacramento
O Zodíaco — O Caso que Ninguém Resolveu!!! 

APÊNDICES
Apêndice 1
Serial Killers do Mundo Inteiro

Apêndice 2 — Pena de Morte no Mundo
Países que Ainda Mantêm a Pena de Morte para Crimes Comuns
Países que Ainda têm a Pena de Morte para Crimes Comuns, mas
têm o Compromisso de não-Execução
Países que Prevêem Pena de Morte em Circunstâncias Especiais ou
em Casos Militares
Países que não têm Pena de Morte para Nenhum Tipo de Crime
Apêndice 3
Mapa — Pena de Morte por Estado — EUA
Apêndice 4
Frases Famosas — Serial Killers
Lista de Objetos Encontrados na casa de Jeffrey Dahmer

UM PEQUENO RELATO

BIBLIOGRAFIA

WEBGRAFIA

Prefácio
Cabeça de Matador
O impulso criminoso, o desejo de matar, os homicídios múltiplos, o
caçador e o caçado, a vítima e o algoz...
Entender esse cenário montado com sangue, que pode ter aspectos que
escapam, na natural (e social) discrepância entre autos e atos, encontra neste
trabalho de Ilana Casoy um vadem mecum para os estudiosos e interessados
em procurar descobrir até que ponto a mente humana é capaz de chegar. Ao
que parece, não há limites. Nos jargões forenses, falava-se em biotipologia
criminal; hoje se refere mais às perícias criminológicas. Admita-se, a rigor,
que exista um interesse dominante centrado em descobrir e provar que
alguém cometeu determinado crime. Depois, se o autor tinha ou não
consciência dos atos praticados, acaba virando um duelo entre acusação e
defesa, para convencer os juizes de fato, no júri popular ou no juízo singular,
que devem ser admitidas circunstâncias agravantes (consciente cruel), as
qualificadoras e eventualmente as atenuantes (incapaz de se
autodeterminar). Quem pode exclamar, satisfeito: touché!? Difícil, a esgrima.
Nem sempre a loucura leva ao crime. Mas o crime pode levar à loucura. A
imperfeição humana talvez nos ajude a entender o poeta Cassiano Ricardo:
ou o pensar que a arte e loucura são flores diversas, num só ramo, como a lágrima é
irmã gêmea do orvalho. O terreno é movediço. Nele também se movem os
semi-imputáveis. Porque o matador, consciente ou inconsciente, impassível
ou cruel, é olhado sob o prisma da periculosidade. O castigo penal pode se

refugiar na terapêutica compulsória. O critério do duplo binário, que por
tanto tempo vigorou em nosso Direito, aplicava a medida de segurança
detentiva, em caráter complementar à aplicação da pena. Podia ser símbolo
de prisão perpétua. Podia ser motivo de orgulho para o defensor: o réu não
foi condenado, apenas internado até cessar a periculosidade...
Neste jogo, em que podemos recorrer a Cesare Lombroso ou a Michel
Foucault, tenta-se compreender a alma humana com critério ético ou
automaticamente burocrático. Sim, temos laudos burocráticos e até
irresponsáveis. Como aconteceu nos anos de chumbo, o período do arbítrio
institucional, quando o Manicômio Judiciário foi utilizado para deixar
apodrecer desafetos do regime. Como fizeram com Aparecido Galdino
Jacintho, o homem que benzia animais em Santa Fé do Sul, interior de São
Paulo, inofensivo mas subversivo para o regime militar e “doente e perigoso
que deve permanecer frenocomiado”, segundo os psiquiatras que o
examinavam e o mantiveram encarcerado no hospital-presídio durante sete
longos anos. Nessa época, dizia-se que alguém é perigoso porque quando
entrou no Manicômio era. A ética ficava nos porões.
Não são estes os casos da pesquisa de fôlego feita por Ilana Casoy. Mas
é necessário entender um pouco melhor do que acontece nos meandros da
psiquiatria forense para aproveitar melhor o trabalho que ela realizou. Era
moda, no passado, imaginar certos criminosos com características físicas.
Segundo Lombroso, por exemplo, o criminoso nato teria um... crânio quase
sempre assimétrico, preponderante na parte superior e pequeno em relação ao
desenvolvimento da face (...), de orelhas volumosas, de cabelo ordinariamente
abundante mas de barba rala (...) e, com bem raras exceções, de uma fealdade
chocante. Um dos críticos dessa teoria, Gabriel Tarde, diria que Lombroso foi
como o café: excitou a todos mas não nutriu a ninguém. Mas fez escola. Nina
Rodrigues, que empresta seu nome para o Instituto Médico Legal de
Salvador, queria porque queria demonstrar que Antonio Conselheiro, o
rebelde do arraial de Canudos imortalizado por Euclides da Cunha em Os

Sertões, seria um psicopata lombrosiano. Até escreveu a respeito. Mas
quando lhe levaram a cabeça do beato, decepada em outubro de 1897, como
se fosse uma perigosa ameaça à República recém-proclamada, esqueceu-se
do que havia escrito, como hoje é comum, no Brasil, em certas áreas da
sociologia. A cabeça do Conselheiro desapareceu entre os escombros de um
incêndio que destruiu na Bahia a nossa primeira Faculdade de Medicina em
1906.
Emblemático.
Em nosso tempo, fazemos — diante de determinados autores de crimes
— perguntas de ordem morfológica, funcional, neurológica, genética e
biológica. Busca-se entender o criminoso na sua forma humana e psíquica —
o duelo entre o eu pessoal e o eu social.
Um dos muitos aspectos importantes desse Serial Killer — Louco ou
Cruel? que está em suas mãos é chamar a atenção para o detalhe da
inexistência dos monstros, como sempre gosta de bradar a vox populi.
Particularmente, o único monstro com existência legal em nosso planeta que
conheço é a serpente do lago Ness, na Escócia. Mas, convenhamos, esse
monstro possui licença concedida em caráter estritamente precário.
No caso da pesquisa de Ilana Casoy, temos casos específicos, nomes,
histórias, atos, autos, quem foi, relação das vítimas, época dos crimes, modus
operandi e a psicótica assinatura pessoal na cena do crime, a marca registrada
de cada um. Assusta saber que serial killer existe em profusão na sociedade, e
as mulheres sempre são consideradas problema para ele. De Jack, o
Estripador, em plena Inglaterra vitoriana, ao Unabomber contemporâneo.
Há uma variedade imensa de casos e personagens. Como não existem
monstros, é um desfile incessante de parte da raça humana. Ilana Casoy
montou essa passarela com precisão de cirurgiã para nos apresentar a
coletânea intrigante. De uma forma que não permite ao saber encobrir o que
sabe, como diria Vieira num dos seus sermões magistrais. Ajudando a
decifrar enigmas, como se estivesse diante de uma esfinge voraz, a autora

que experimentou a clausura para produzir este trabalho mergulha na
cabeça dos matadores e nos oferece esse compêndio criminal de interesse
multidisciplinar. Valeu, pois como escreveu o apóstolo Paulo, em sua
primeira epístola endereçada aos cristãos em Corinto (1.25), ... a loucura de
Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os
homens.
Seja bem-vinda ao mundo dos que se dedicam à palavra escrita.


PERCIVAL DE SOUZA
Jornalista, Escritor, Criminólogo

Quem é um Serial Killer?
O que leva uma pessoa a praticar atos tão bizarros como assassinatos
em série? A questão é genética, psíquica ou psicológica? Traumas infantis
podem ter conseqüências tão horrendas? Quanto precisam pai e mãe errar
para criar um monstro?
Foram estas as questões que me levaram a pesquisar, e aqui vão
algumas das respostas encontradas. Espero que elas possam contribuir para
a curiosidade de leigos que, como eu, tentam entender onde nasce a
violência.
A teoria freudiana acredita que a agressão nasce dos conflitos internos
do indivíduo.
A Escola Clássica baseia-se na idéia que pessoas cometem certos atos
ou crimes utilizando-se de seu livre-arbítrio, ou seja, tomando uma decisão
consciente com base de uma análise de custo-benefício. Em outras palavras,
se a recompensa é maior que o risco, vale a pena corrê-lo. Se a punição for
extrema, não haverá crimes.
A Escola Positivista acredita que os indivíduos não têm controle sobre
suas ações; elas são determinadas por fatores além de seu controle, como
fatores genéticos, classe social, meio ambiente e influência de semelhantes.
Não seria a punição que diminuiria a criminalidade, e sim reformas sociais e
tratamentos para recuperar o indivíduo.
Não importa a teoria, os serial killers não se adequam a nenhuma linha
de pensamento específica. Na verdade, são um capítulo à parte no estudo do
crime.

O termo serial killer é relativamente novo. Foi usado pela primeira vez
nos anos 70 por Robert Ressler, agente aposentado do FBI11 e grande
estudioso do assunto. Ele pertencia a uma unidade do FBI chamada
Behavioral Sciences Unit — BSU (Unidade de Ciência Comportamental), que
tinha sua base em Quântico, Virgínia.
Esta unidade deu continuidade ao trabalho do psiquiatra James
Brussell, pioneiro no estudo da mente de criminosos. O BSU começou
montando uma biblioteca de entrevistas gravadas com serial killers já
condenados e presos em todos os EUA. Seus investigadores iam até as
penitenciárias em diversos estados americanos, entrevistando os serial killers
mais famosos do mundo, como Emil Kemper, Charles Mason, David
Berkowitz. Tentavam entrar em suas mentes e compreender o que os
impulsionava a matar.
Detalhes de todos os crimes americanos eram enviados a esta unidade,
e os “caçadores de mentes” procuravam por pistas psicológicas em cada
caso. Pelo que viam nas fotos das cenas dos crimes, desenvolveram a
habilidade de descrever suspeitos e suas características de forma
impressionante. Muito bom senso era utilizado, mas com o tempo foram
criadas técnicas de análise da cena do crime, que veremos adiante com mais
detalhes.
Aceitamos como definição que serial killers são indivíduos que cometem
uma série de homicídios durante algum período de tempo, com pelo menos
alguns dias de intervalo entre eles. O espaço de tempo entre um crime e
outro os diferencia dos assassinos de massa, indivíduos que matam várias
pessoas em questão de horas.
O primeiro obstáculo na definição de um serial killer é que algumas
pessoas precisam ser mortas para que ele possa ser definido assim. Alguns
estudiosos acreditam que cometer dois assassinatos já faz daquele assassino,
                                              1
 F.B.I: Federal Bureau of Investigation — órgão americano responsável por todas as investigações
criminais federais.

um serial killer. Outros afirmam que o criminoso deve ter assassinado pelo
menos quatro pessoas. Mas será que a diferença entre um serial killer e um
assassino comum é só quantitativa? Obviamente que não.
O motivo do crime, ou mais exatamente, a falta dele, é extremamente
importante para a definição de um assassino como serial. As vítimas
parecem ser escolhidas ao acaso e mortas sem nenhuma razão aparente.
Raramente, o serial killer conhece sua vítima. Ela representa, na maioria dos
casos, um símbolo. Na verdade, ele não procura uma gratificação no crime,
apenas exercita seu poder e controle sobre outra pessoa, no caso, a vítima.
Os serial killers são divididos em quatro tipos:
a. VISIONÁRIO: é um indivíduo completamente insano, psicótico. Ouve
vozes dentro de sua cabeça e as obedece. Pode também sofrer alucinações ou
ter visões.
b. MISSIONÁRIO: socialmente não demonstra ser um psicótico, mas
internamente tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou
indigno. Este tipo escolhe um certo grupo para matar, como prostitutas,
homossexuais, etc.
c. EMOTIVOS: matam por pura diversão. Dos quatro tipos estabelecidos,
é o que realmente tem prazer de matar e utiliza requintes sádicos e cruéis.
d. LIBERTINOS: são os assassinos sexuais. Matam por “tesão”. Seu prazer
será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura e a ação
de torturar, mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos
fazem parte deste grupo.
Serial killers também são divididos pelas categorias de “organizados” e
“desorganizados”, geograficamente estáveis ou não.
O denominador comum entre todos os tipos é o sadismo, desordem
crônica e progressiva.

Segundo o Dr. Joel Norris2, existem seis fases do ciclo do serial killer:
1. FASE ÁUREA: onde o assassino começa a perder a compreensão da
realidade;
2. FASE DA PESCA: quando o assassino procura a sua vítima ideal;
3. FASE GALANTEADORA: quando o assassino seduz ou engana sua
vítima;
4. FASE DA CAPTURA: quando a vítima cai na armadilha;
5. FASE DO ASSASSINATO OU TOTEM: auge da emoção para o assassino;
6. FASE DA DEPRESSÃO: que ocorre depois do assassinato.
Quando o assassino entra em depressão, engatilha novamente o início
do processo, voltando para a Fase Áurea.
Quem é a Vítima?
As vítimas do serial killer são escolhidas ao acaso ou por algum
estereótipo que tenha significado simbólico para ele.
Diferente de outros homicídios, a ação da vítima não precipita a ação
do assassino. Eles são sádicos por natureza e procuram prazeres perversos
ao torturar suas presas, chegando até a “ressuscitá-las” para “brincar” um
pouco mais. Têm necessidade de dominar, controlar e possuir a pessoa.
Quando a vítima morre, eles são novamente abandonados à sua misteriosa
fúria e ódio por si mesmos. Este círculo vicioso continua em andamento até
que seja capturado ou morto.
Com raras exceções, o serial killer vê suas vítimas como objetos. Para
humilhá-las ao máximo, torturá-las fisicamente e matá-las, não pode
enxergá-las como pessoas iguais a ele mesmo e correr o risco de destruir sua
fantasia. Sente-se bem ao saber que as fez sentir-se mal.
                                              2
 Dr. Joel Norris — PhD. em Psicologia e escritor.

Esta é a essência do pensamento do serial killer: as vítimas não são suas
parceiras na realização da fantasia, e sim seu objeto de fantasia. Ele tira da
vítima o que quer e, quando termina, livra-se dela. Pode jogá-la no
acostamento, arrumá-la em um gramado ou picá-la em mil pedaços e
espalhá-los numa mata.
Existem pesquisas que revelam que o prazer sexual do criminoso tem
correlação direta com a resistência da vítima, e esta aumenta o tempo da
duração do crime, que varia entre 36 e 94 minutos.
Tendem a escolher vítimas mais fracas fisicamente do que eles, o que
facilita seu domínio. De forma geral, as vítimas também pertencem a grupos
menos beneficiados, como prostitutas, vagabundos ou caronistas, pois a
demora em constatar seu desaparecimento facilita o trabalho do serial killer.
As serial killer femininas, na maioria dos casos, são “viúvas negras” ou
anjos da morte: matam maridos e amantes ou velhos e doentes terminais.
O famoso serial killer Ted Bundy matava brutalmente colegiais com
longos cabelos castanhos, meninas parecidas com sua noiva rica que rompeu
o relacionamento. David Berkowitz, o “Filho de Sam”, não era tão específico:
bastava ser mulher para se tornar sua vítima em potencial.
John Gacy, de forma selvagem, torturava e estrangulava garotos, o que
faz muitos analistas acreditarem que eles representavam o próprio Gacy na
sua inadequação aos olhos do pai dominador.
O “Estrangulador de Boston” só matava mulheres voluptuosas. Foi
também chamado de “O Homem Medida”.
Conclui-se então que não existe um tipo físico preferido de vítima, a
ação do serial killer não depende da atitude daquela e o motivo do assassino,
em geral, só faz sentido para ele mesmo. Portanto, a melhor prevenção para
não se tornar uma vítima é... rezar!


Aspectos Gerais e Psicológicos
Existem vários aspectos psicológicos que os serial killers têm em
comum, tanto no que diz respeito à sua ação quanto ao seu passado.
Na infância, nenhum aspecto isolado define a criança como um serial
killer em potencial, mas a chamada “terrível tríade” parece estar presente no
histórico de todos os serial killers: enurese3 em idade avançada, abuso sádico
de animais ou de outras crianças, destruição de propriedade e piromania4.
Outras características comuns na infância desses indivíduos são:
devaneios diurnos, masturbação compulsiva, isolamento social, mentiras
crônicas, rebeldia, pesadelos constantes, roubos, baixa auto-estima, acessos
de raiva exagerados, problemas relativos ao sono, fobias, fugas, propensão a
acidentes, dores de cabeça constantes, possessividade destrutiva, problemas
alimentares, convulsões e automutilações, todas elas relatadas pelos
próprios serial killers em entrevistas com especialistas.
Apesar de não fazer parte da “terrível tríade”, o isolamento familiar
e/ou social é relatado pela grande maioria deles. Quando uma criança é
isolada ou deixada sozinha por longos períodos de tempo e com certa
freqüência, a fantasia e os devaneios passam a ocupar o vazio da solidão. A
masturbação compulsiva é conseqüência altamente previsível.
Para as pessoas normais, as fantasias podem ser usadas como fuga ou
entretenimento. É temporária, e existe a compreensão por parte do
indivíduo de que é completamente irreal. Para os serial killers a fantasia é
compulsiva e complexa. Acaba se transformando no centro de seu
comportamento, em vez de ser uma distração mental. O crime é a própria
fantasia do criminoso, planejada e executada por ele na vida real. A vítima é
apenas o elemento que reforça a fantasia.
A escalada da fantasia, ao exigir constante reforço e, para tanto,
                                              3
 Enurese: incontinência urinária sem conhecimento, micção involuntária, inconsciente. 4
 Piromania: mania de atear fogo.

sucessão de vítimas, acaba se tornando o motivo do crime e estabelecendo a
“assinatura” do criminoso.
O comportamento fantástico do serial killer serve a muitos objetivos:
aplaca sua necessidade de controle, dissocia a vítima tornando os
acontecimentos mais reais, dá suporte à sua “personalidade para fins
sociais” e é combustível para futuras fantasias.

Controle
Para o serial killer, a fantasia provê sua necessidade de controle da
situação. Em homicídios seriais, o assassinato aumenta a sensação de
controle do criminoso sobre sua vítima. Ele estabelece um comportamento
que demonstra, sem sombra de dúvida, que está no controle.
Um dos meios de o serial killer estabelecer o controle é degradar e
desvalorizar a vítima por longos períodos de tempo. Esse objetivo pode ser
alcançado fazendo-a seguir um roteiro verbal, através de sexo doloroso e/ou
forçado e pela tortura.
Alguns serial killers não se sentem no controle da situação até a vítima
estar morta, então as matam mais rapidamente. Uma vez morta, começam as
mutilações post-mortem, a desfeminização (grande estrago ou retirada dos
órgãos femininos) e disposição do corpo de maneira peculiar, em geral
humilhante (nua, por exemplo). Esse comportamento estabelece claramente
o controle do serial killer sobre a vítima.
Um exemplo que pode exemplificar bem a questão de fantasia e
controle é o caso de Dayton Leroy Rogers5.
Quando estava recém-casado com sua primeira esposa, Rogers atacou
uma garota de 15 anos com uma faca. Foi imediatamente colocado em um
programa de reabilitação sexual para transgressores sexuais. Ali, suas
fantasias cresceram e tornaram-se cada vez mais violentas. Ele passou a usar
                                              5
 Crimes ocorridos na cidade de Portland, Oregon, nos E.U.A..

narcóticos, álcool e a masturbar-se compulsivamente.
Durante o período de seu segundo casamento, admitiu já ter fantasias
sexuais violentas de escravidão durante as relações sexuais do casal.
Declarou que essas fantasias aumentavam sua excitação.
Quando fantasiar já não era suficiente, passou a pegar prostitutas tarde
da noite com seu caminhão, levando-as a lugares remotos na floresta de
Molalla.
Uma vez no local escolhido, ele coagia a prostituta a deixar-se amarrar
e... iniciava-se um ritual de escravidão metódico e extremo. Em algum
momento desse ritual, ele começava a masturbar-se com os pés da vítima.
Torturava-as intermitentemente fatiando seus pés ou cortando seus
mamilos.
O procedimento se estendia até as primeiras horas da manhã. De
acordo com algumas vítimas sobreviventes, ele regularmente pausava o
ataque e as deixava sozinhas no caminhão enquanto ia urinar do lado de
fora, uma vez que consumia álcool durante toda a provação por que
passavam suas vítimas.
Rogers as mantinha amarradas de forma apertada e dolorosa e as
ameaçava estrangular se elas não se submetessem às suas exigências, que
incluíam “falas” do texto que estava em sua imaginação. A menos que
escapasse, a vítima não tinha a menor chance: seria assassinada e jogada na
floresta.
Geralmente eram caçadores que encontravam os corpos das vítimas já
decompostos, depois de decorrido algum tempo dos assassinatos.
Rogers procurava sua vítima ideal, levava-a para um local onde ele
estaria no controle total da situação e a forçava a um papel, uma
personagem dentro de sua fantasia.
Constata-se a procura de controle por parte do serial killer a partir da
observação do local onde ele vai realizar sua fantasia, do roteiro ao qual ele
submete a vítima, das armas que ele eventualmente usa ou traz consigo e do

tipo de mutilação que ele inflige à vítima. O agressor faz aquilo que acredita
que o manterá no controle, alimentando e reforçando sua fantasia.

Dissociação
Para parecer uma pessoa normal e misturar-se aos outros seres
humanos, o serial killer desenvolve uma personalidade para contato, ou seja,
um fino verniz de personalidade completamente dissociado do seu
comportamento violento e criminoso.
A dissociação não é anormal, todos nós temos um comportamento
social mais “controlado” do que aquele que temos com nossos familiares
mais íntimos.
No caso do serial killer, a dissociação de sua realidade e fantasia é
extrema. Muitos têm esposas, filhos e empregos normais, mas são
extremamente doentes. Mutilar a vítima, dirigir sua atuação como em um
teatro ou sua desumanização também ajudam o serial killer a dissociar-se.
O real e violento comportamento do agressor é suprimido socialmente.
Pode soar como amnésia temporária ou segunda personalidade, mas não é o
caso.
A fantasia capacita a dissociação. Quanto mais intrincada, maior
distância é mentalmente criada entre o comportamento criminoso do serial
killer e o verniz superficial de personalidade para contato. Sem esse verniz,
serial killers não poderiam viver na sociedade sem ser presos
instantaneamente.
O fato de controlar seu comportamento para que isso não aconteça
mostra que o criminoso sabe que seu comportamento não é aceito pela
sociedade, e que seu verniz social é deliberado e planejado com
premeditação. É por esse motivo que a maioria deles é considerada sã e
capaz de discernir entre o certo e o errado.
A dissociação que fazem dos seus crimes enquanto estão num contexto

social é tão profunda que muitos serial killers, quando são presos, negam sua
culpa e alegam inocência com convicção e, mesmo que as provas para sua
condenação incluam fotografias dele mesmo com suas vítimas, objetos
pessoais das vítimas encontrados em seu poder ou qualquer outra prova
irrefutável, continuam negando veementemente a sua participação no crime.
Seu verniz é tão perfeito que as pessoas na prisão confiam nele e em
seu comportamento, sem entender como aquela pessoa tão educada e
solícita, calma e comportada, possa ter cometido crimes tão numerosos e
violentos.
Jerry Brados6, na adolescência, adorava se vestir de mulher e raptar
outras mulheres para ter relações sexuais com elas. Na vida adulta, após seu
casamento, começou a utilizar-se de vários disfarces e traques para pegar
suas vítimas e levá-las para sua garagem.
Uma vez ali, ele as forçava a tirar a roupa e vestir lingerie e sapatos de
sua imensa coleção. A vítima era então amarrada.
Masturbava-se tirando fotografias dele mesmo e delas, usando para
efeitos especiais os espelhos estrategicamente colocados no teto de sua
garagem.
Quando terminava sua sessão fotográfica, Jerry estrangulava sua
vítima, amarrava pesadas peças de motor em seu corpo e as jogava no rio
Willamette para que afundassem no esquecimento. Depois de cinco
assassinatos parecidos, Jerry foi considerado suspeito. A polícia conseguiu
um mandado de busca para investigar sua casa, e mesmo Jerry, sabendo o
dia com antecedência, não demonstrou nenhuma preocupação ou sumiu
com alguma prova. Era como se o assunto não se referisse a ele.
Entre as provas encontradas pela polícia na garagem de Jerry Brados
estavam:
— Sua coleção de fotografias das vítimas demonstrando toda sua
                                              6
 Crimes ocorridos na cidade de Salem, Oregon, nos EUA.

nudez e submissão.
— Sua coleção de sapatos roubados.
— Roupas de várias vítimas.
— Sua coleção de lingerie roubada.
— Um peso para papel moldado no seio de uma das suas vítimas.
— O seio que serviu de molde para o peso no freezer da garagem.
— Partes do corpo removidas das vítimas, particularmente pés,
guardados no freezer.
— Fotos de sua esposa, Ralphene Brudos, nua.
Na ausência de vítimas, esses apetrechos permitiam que ele mantivesse
viva sua fantasia e planejasse seu próximo crime. Sua esposa confirmou que
ele passava horas na garagem e ficava fora de si caso ela ameaçasse entrar ou
violar sua privacidade.
Jerry Brados está preso na Penitenciária Estadual de Salem e nega até
hoje qualquer conhecimento ou participação naqueles crimes pelos quais foi
condenado.
Antes do julgamento, chegou a confessar os crimes alegando
insanidade, mas como este pedido foi indeferido, jamais admitiu seus crimes
depois disso, apesar das fotos, testemunhas, partes dos motores amarrados
às vítimas que lhe pertenciam... enfim, todas as evidências materiais
possíveis e imagináveis. Jerry Brados alega ser inocente.
Seu verniz social é tão perfeito e verossímil que ele é considerado um
dos presos mais confiáveis da penitenciária, apesar de ser capaz de
crueldades indescritíveis na realização de seus crimes. Prestou vários
serviços e seus guardas e diretores só têm maravilhas a falar sobre ele. É
tratado como um preso não perigoso, apesar de ser um serial killer
condenado. Sua liberdade condicional é revista a cada dois anos e já está
preso há 25 anos.
Seu verniz social foi tão habilmente construído e é tão sofisticado, que
pode até ser colocado em liberdade a qualquer momento.


Empatia
Quando uma criança começa a provocar outra, notamos imediatamente
um novo estágio em seu desenvolvimento: significa que ela já é capaz de se
colocar no lugar de outra pessoa, concluir qual atitude sua vai irritá-la e
então se utilizar desse raciocínio para aborrecer o outro.
Estendendo essa mesma lógica para a mente do serial killer, se ele
precisa da vítima humilhada e amedrontada, ele necessita saber como obter
esse resultado.
É um erro pressupor que o serial killer não sabe fazer empatia, uma vez
que ele compreende exatamente o que é humilhante, degradante ou
doloroso para a vítima e planeja sua ação para obter desta o que necessita e
deseja.
Segundo Brent E. Turvey, famoso psiquiatra forense, esta é uma
evidência irrefutável de que o criminoso tem uma clara compreensão das
conseqüências de seu comportamento e ação para a vítima; entender que ela
está humilhada e sofrendo é, em parte, o porquê de ele estar se comportando
dessa maneira.
Segundo John E. Douglas7, enquanto o maior medo das mulheres é
serem atacadas quando estão sozinhas, o dos homens é serem humilhados,
principalmente na frente de outras pessoas. A maioria dos criminosos
violentos tem histórias de humilhação pública na sua infância, praticada em
parte pelos pais ou pelos colegas da escola. Sabem exatamente como é a
sensação de passar por essa tortura.
Seu comportamento não é puramente egocêntrico, seu prazer é. Sente-
se bem na mesma medida em que suas vítimas sentem-se mal.


                                              7
 Ex-agente da Unidade de apoio à Investigação do F.B.I.

Intimidade
A intimidade é assunto de grande preocupação para todo serial killer. É
desejada por todos eles, mas não sabem como obtê-la pelas vias normais,
uma vez que são anti-sociais.
O ritual a que submete a vítima acaba sendo para ele o máximo da
intimidade; sob seu controle, desnuda-a em todos os sentidos. A forçada
intimidade sexual acaba sendo, para o criminoso, o máximo de proximidade
que consegue em termos espirituais e emocionais.
Para o serial killer, a intimidade está em “dividir” com a vítima seus
mais secretos desejos e sentimentos pessoais. Mas não se iluda: o agressor
não é parceiro da vítima, ela é apenas o objeto de sua fantasia.

Repetição ou Reencenação
Cada crime, cada vítima, é parte da fantasia macro do criminoso. Toda
esta história foi vivida inúmeras vezes antes, durante e certamente depois
dele.
A repetição e reencenação servem para alimentar a fantasia, reforçando
a escalada de comportamento violento, e dá prazer sexual ao serial killer.
É um exercício mental para o criminoso reencenar o crime depois de tê-
lo cometido, e para conseguir fazê-lo, cada um deles se utiliza de métodos
diferentes.
Alguns gravam e filmam seus crimes para assisti-los várias vezes
depois de livrar-se do corpo e assim estimular e preparar futuros crimes.
Outros ficam com souvenirs de suas vítimas, como roupas, sapatos e até
partes do corpo. Outros ainda matam sempre no mesmo local,
embaralhando na sua cabeça o momento passado com o atual.

Abuso na Infância e Outras Características
A grande maioria dos serial killers (cerca de 82%) sofreu abusos na

infância. Esses abusos foram sexuais, físicos, emocionais ou relacionados à
negligência e/ou abandono.
Não é fácil identificar um abusador de crianças. Gente de todas as
raças, religiões, profissões, classes sociais, etc. está representada entre eles.
Em sua maioria, são homens, entre a adolescência e a meia-idade. Algumas
características já foram constatadas:
— Um terço dos abusadores é viciado em alguma substância
entorpecente.
— A proporção constatada é de oito homens abusadores para apenas
uma mulher.
— Os casos mais freqüentes estão entre pais, padrastos, tios, avôs,
primos e irmãos.
— Meninas têm maior chance de ser molestadas por membros da
família do que meninos.
— Muitos casos de incesto entre pai e filho aparecem como reação ao
stress emocional e/ou perdas que ameaçam a masculinidade dos
pais, ou como uma expressão de ódio.
— Criminosos que abusam de meninos mostram um maior risco de
reincidir do que aqueles que abusam de meninas.
Podemos dividir os abusos sexuais infantis em três categorias: crianças
espancadas que sofrem ferimentos principalmente na área genital, crianças
que tiveram contato genital não apropriado com adulto ou sofreram
tentativa de intercurso sexual e crianças que tiveram contato com a
sexualidade adulta, possivelmente via pornografia. Em 75% dos casos
conhecidos de abuso sexual, a criança conhecia seu abusador, em 20% o
abusador é o pai natural, em 12% ele é o padrasto e em apenas 2% dos casos
a abusadora é a mãe.
Os abusadores sexuais são classificados em três tipos: pedófilos

(seduzem crianças com atenção e presentes), odiadores de crianças e
aproveitadores de pornografia ou prostituição infantil.
É importante conhecer a diferença entre um pedófilo e um molestador
de crianças. A pedofilia, desordem psicológica, consiste em uma nítida
preferência sexual por pré-púberes (menores de 12 anos), mas não requer
que a pessoa realmente se envolva num ato sexual de fato. O pedófilo pode
manter suas fantasias em segredo, sem nunca dividi-las com ninguém.
Manter-se perto de crianças a qualquer custo é sua marca registrada.
Molestadores de crianças podem ter várias motivações para seus
crimes. Diferente do pedófilo, nem sempre seus motivos são de origem
sexual, ou têm muito pouco a ver com desejo sexual. Além disso, chegam às
vias de fato. O molestador não tem uma genuína preferência sexual por
crianças, e em geral foi vítima de outros tipos de abuso em sua vida. É a
continuação do processo pelo qual foi tratado, que causou nele baixa auto-
estima e baixos padrões morais. Fazer sexo com crianças é apenas mais uma
oportunidade de prolongar a violência que já faz parte de sua existência.
O molestador que realmente prefere crianças é obrigado a seguir um
padrão de comportamento bastante distinto. Seduzir estes pequenos seres e
utilizar-se de suas fraquezas emocionais requer um relacionamento
construído ou já existente. Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, em
90% dos casos de estupro ocorrido com crianças pré-púberes, a vítima
conhecia seu algoz.
As características mais comuns no pedófilo são as seguintes:
— Tem fascinação ou interesse fora do normal por crianças.
— Faz freqüentes referências à “santidade” e pureza das crianças.
— Tem passatempos ou interesses em coisas que realmente pertencem
ao mundo infantil, como colecionar brinquedos, aeromodelismo, etc.
— Sua casa ou quarto é decorado com temas infantis.
— Freqüentemente, o tema acaba revelando a idade preferida das

crianças que molesta.
— Tem mais de 30 anos, é solteiro e tem poucos ou nenhum amigo.
— Muda de endereço com freqüência acima da média.
— Tem acesso a crianças de forma sistemática e prolongada, pois logo
levantaria suspeitas se não tivesse uma razão plausível para estar
perto delas. Geralmente escolhe empregos em setores em que estará
forçosamente lidando com crianças em bases diárias, como
professores, motoristas escolares, monitores de acampamentos,
fotógrafos e treinadores de esporte.
— É voluntário para atividades nas quais ficará sozinho com crianças,
sem a supervisão dos pais.
— Crianças saudáveis e com ótimo relacionamento familiar não estão
isentas de ser vítimas de molestadores, pois têm aspectos de sua
natureza que podem trabalhar contra elas mesmas. Qualquer criança
é curiosa, facilmente influenciável e manipulável, além de sempre
precisar de atenção e afeto. A escolha do molestador, de modo geral,
recai sobre crianças problemáticas, pois a sedução fica facilitada.
— A criança molestada acaba sofrendo da síndrome de Estocolmo8.
Abusos físicos, como surrar crianças ou estupro, são mais facilmente
detectáveis. Quanto à negligência, a situação é completamente diferente.
Surrar e estuprar deixam marcas facilmente reconhecíveis por terceiros, que
                                              8
 Síndrome de Estocolmo: caracteriza-se por três sintomas principais, manifestados pelas pessoas que se
envolvem num evento crítico (e não apenas pelos reféns, como muitos pensam): sentimentos positivos do
refém ou vítima em relação ao captor, sentimentos positivos do captor em relação ao refém ou vítima e
sentimentos negativos do refém ou vítima em relação às autoridades que gerenciam a crise. O nome se
origina de um evento crítico ocorrido em Estocolmo, na Suécia, em 1973. Dois assaltantes (Jan Olson e
Clark Olofsson) mantiveram por uma semana seis pessoas como reféns, presas dentro do cofre do Banco
de Crédito de Estocolmo. Após a liberação, manifestaram grande hostilidade contra os policiais e
defenderam ardorosamente os bandidos que os agrediram e humilharam, além de pagar por sua defesa.
Afinal, deviam suas vidas à generosidade dos bandidos...

podem interferir comunicando os maus-tratos à polícia.
Negligência é um conceito subjetivo e pessoal, e prová-la num tribunal
é extremamente complicado.
Também não se sabe por que algumas crianças conseguem lidar melhor
com certos tipos de abusos, superando-os, enquanto outras, sofrendo a
mesma agressão, têm suas vidas drasticamente alteradas.
Os laços familiares na infância de um ser humano vão servir de mapa
para todas as suas outras relações. Entre 3 e 9 meses de vida, a criança cria
laços com seus pais, que devem preocupar-se em construí-los de forma
profunda. A falta desses laços é o grande fator do desenvolvimento da
psicopatia.
A conexão nos primeiros meses de vida da criança irá ajudá-la a
desenvolver-se intelectualmente, desenvolver uma consciência, lidar melhor
com as frustrações, ter mais autoconfiança e auto-estima e a desenvolver
relacionamentos empáticos.
Cuidar do emocional da criança, para os pais, deve ter a mesma
importância de uma boa nutrição. Auto-estima, maleabilidade, esperança,
inteligência e capacidade de empatia são essenciais para a construção de um
caráter que controla seus impulsos, administra sua raiva e resolve seus
conflitos. Sem essas habilidades adquiridas, a criança não é capaz de
estabelecer relacionamentos importantes.
Uma criança que não aprende a valorizar sua família e relacionar-se
com ela dificilmente conseguirá se relacionar normalmente com outras
pessoas.
Entre os serial killers estudados, esta é outra característica encontrada
com facilidade: seu tenso e difícil, às vezes até inexistente, relacionamento
familiar.
A crueldade com animais é geralmente considerada como
comportamento sádico. Temos que ter em mente que nem todos os sádicos
se tornaram assassinos, nem todos os serial killers mutilaram animais na

infância e nem todos os que o fizeram se tornaram criminosos — apenas 36%
dos serial killers foram cruéis com animais. Devemos também entender que
ser cruel com animais não é o único indício de sadismo: esse comportamento
pode ser indicado pela crueldade com outras crianças ou até com bonecas e
outros objetos.
Todos os comportamentos descritos acima têm muito em comum: só se
agravam com o tempo. As fantasias se tornam mais violentas e os atos
sádicos, mais cruéis.
Por sua natureza psicopata, serial killers não sabem sentir compaixão
por outras pessoas ou como se relacionar com elas. Eles aprendem a imitar
as pessoas normais.
É um ato manipulativo, que aprenderam por observação e que os
ajudará a trazer a sua vítima para dentro da armadilha. Em geral, são ótimos
atores e têm uma aparência absolutamente normal.
Henry Lee Lucas dizia se sentir como uma estrela de cinema, fazendo a
sua parte. Gacy se vestia de palhaço e fazia shows para crianças carentes,
enquanto o Assassino do Zodíaco se vestia com um estranho traje de
execução, mais parecido com o de um “ninja”.
Quando são capturados, rapidamente assumem uma máscara de
insanidade, alegando múltiplas personalidades, esquizofrenia, black-out
constantes ou qualquer coisa que o exima de responsabilidades.
Para que um crime seja solucionado, tanto a medicina forense como a
psicologia devem ser utilizadas. Quanto mais interação entre os profissionais
destas duas áreas, mais chance tem a polícia de encontrar e prender os serial
killers.
Mitos e Crenças
Todos os Serial Killers são Homens?
Apesar da grande maioria deles serem homens, falar que não existem

assassinas seriais é completamente incorreto. Os crimes femininos têm, em
geral, menos publicidade que os masculinos: são menos sensacionais e têm
motivações diferentes.
Segundo Douglas, ex-agente do FBI, a minoria dos serial killers é da raça
negra. Isso se deve ao fato de que, mesmo nos lares onde sofreram com mães
abusivas, são resgatados por alguma figura feminina amável, especialmente
as avós. É um comportamento natural na cultura negra.
Mulheres, quando sofrem os mesmos tipos de abuso ou negligência
que os homens na infância, tendem a internalizar seus sentimentos, segundo
John Douglas. Elas acabam tendo comportamentos autodestrutivos, como
alcoolismo, drogas, prostituição ou suicídio. Não é freqüente se tornarem
agressivas ou predatórias.
Mulheres, quando serial killers, tendem a matar pessoas que elas
conhecem, e não estranhos quaisquer. Em geral, seus alvos são crianças ou
seus próprios maridos.
Todo mundo já ouviu falar da “viúva negra”, a mulher que matou
vários maridos ou parceiros por um longo período de tempo, com objetivos
meramente financeiros.
As mulheres, de forma geral, também fazem seus crimes parecerem
mortes por causas naturais, como ataques do coração, suicídios, acidentes ou
“doenças”, que na verdade foram causadas por envenenamento.
A assassina serial mais conhecida da atualidade é Aileen Wuornos,
sentenciada à morte pelo homicídio de um homem e acusada de mais seis
outros.
A alegação de legítima defesa é o que faz muitas assassinas seriais
permanecerem fora das estatísticas, além do fato de freqüentemente
matarem em dupla, o que as torna “cúmplices forçadas a matar por seu
homem”, por amor.


Serial Killers são Loucos?
Loucos ou cruéis? Esta é uma dúvida popular e acadêmica.
Racionalizar o ato como sendo resultado de uma doença mental parece
tornar o crime mais lógico.
Insanidade, freqüentemente alegada em tribunais para a tentativa de
absolvição do assassino, não é uma definição de saúde mental, como muitos
acreditam. Seu conceito legal se refere à habilidade do indivíduo em saber se
suas ações são certas ou erradas no momento em que elas estão ocorrendo.
É uma surpresa saber que apenas 5% dos serial killers estavam
mentalmente doentes no momento de seus crimes, apesar das alegações em
contrário.
Historicamente, vários cientistas têm trabalhos publicados sobre a
relação entre crime e biologia. Apesar do grande número deles que estudam
o assunto, não existe nenhuma evidência comprovada cientificamente que
apóie a teoria do “gen criminoso”.
Um estudo sobre gêmeos que foram criados separadamente, feito pelo
Dr. Yoon-Mi Hur e Thomas Bouchar9 em 1997 revelou uma forte ligação
entre fatores genéticos e comportamentos impulsivos e pessoas que
necessitam de grandes emoções.
Existem também serial killers que têm um cromossomo feminino extra
(YXX), como Bobby Joe Long, que sofria da chamada síndrome de
Klinefelter. Como conseqüência, Bobby Joe tinha estrógeno (hormônio
feminino) em maior quantidade circulando em seu sangue, o que acarretou o
crescimento de seus seios na puberdade. Além do óbvio constrangimento
causado, nada comprovou que seu cromossomo extra o teria tornado um
criminoso.
Um serial killer com um cromossomo Y a mais (masculino) também
alegou tal fato em sua defesa, como se esse fator explicasse sua extrema
                                              9
 Artigo “Impulsivity, Sensation-seeking: genetic tie seen” — Depto. Psicologia da Universidade de
Minnesota.

violência. Apesar de parecer uma explicação até lógica, não existem
evidências científicas que comprovem essa hipótese.
A relação entre masculinidade e crime já tentou ser explicada também
através do hormônio masculino testosterona. Uma taxa alta de testosterona
combinada com baixos níveis de serotonina pode causar resultados letais.
Atletas e empresários de sucesso testados demonstraram ter uma taxa
anormalmente alta de testosterona, mas a serotonina diminui o pico de
tensão, equilibrando o indivíduo. Quando esse equilíbrio não existe, a
frustração pode levar à agressividade e comportamentos sádicos, segundo o
Dr. Paul Bernhardt10.
Outra explicação possível é a que criminosos violentos têm traços de
alta dosagem de metais pesados no sangue, como manganês, chumbo,
cádmio e cobre. O manganês, por exemplo, abaixa os níveis de serotonina e
dopamina no organismo, o que contribui para um comportamento
agressivo. O álcool incrementa os seus efeitos.
Tradicionalmente, o comportamento psicopata é conseqüência de
fatores familiares ou sociológicos, mas alguns pesquisadores encontraram
diferenças cerebrais entre psicopatas e pessoas normais que não podem ser
descartadas.
O Dr. Christopher Patrick11, num artigo de 1995, alega que psicopatas
têm menor taxa de mudanças cardíacas e de condução elétrica na pele como
reação ao medo. O grupo de pesquisa deste médico fez a seguinte
experiência: mostrou para um grupo de prisioneiros, psicopatas ou não,
slides agradáveis, neutros e desagradáveis. No experimento, os prisioneiros
psicopatas mostraram uma deficiência na sua capacidade de sentir medo,
não demonstrando diferentes emoções entre os variados tipos de imagens.
O Dr. Robert Hare, Psicólogo da University of British Columbia, completou
                                              10
 Dr. Paul C. Bernhardt — Artigo “High Testosterone, Low Serotonine: Double Problem?” —
Department of Educacional Psichology, University of Utah. 11
 Dr. Christopher J. Patrick — Artigo “Psycopaths: findings Point to Brain Differences” — Department
of Psychology Florida State University.


um estudo sobre como as ondas cerebrais monitoradas de psicopatas
reagiam à linguagem verbal, medindo as mudanças que ocorriam em seu
cérebro quando ouviam palavras como câncer, morte, mesa ou cadeira. Para
as pessoas saudáveis, as ondas cerebrais têm sua
atividade modificada rapidamente, dependendo da
palavra ouvida. Para os psicopatas, nenhuma atividade
cerebral especial foi registrada, ou seja, todas as
palavras são neutras para essas pessoas.
 12
Outros estudos do cérebro sugerem que crianças
psicopatas fazem certas conexões cerebrais mais vagarosamente que outras,
mostram menos medo à punição e parecem ter a necessidade de “excitar”
seu sistema nervoso, sentindo fortes emoções e necessitando de vibrações
constantes.
O Dr. Dominique LaPierre13 sugere que o córtex pré-frontal, área do
planejamento em longo prazo, julgamento e controle de impulsos, não
funciona normalmente em psicopatas.
Novas pesquisas científicas, feitas pelo Dr. Adrian Raine14, em 21
homens com histórico de atos criminosos violentos, de assalto à tentativa de
assassinato, mostraram um resultado no mínimo intrigante: todos
apresentaram o mesmo defeito cerebral, uma reduzida porção de matéria
cinzenta no lobo pré-frontal, justo atrás dos olhos.
Indivíduos que são anti-sociais, impulsivos, sem remorso e que
cometem crimes violentos têm, em média, 11% menos matéria cinzenta no
córtex pré-frontal do que o normal. Os estudos de Raine são os primeiros a
ligar comportamento violento e anti-social com uma anormalidade
anatômica específica no cérebro humano. Mas, segundo seus
esclarecimentos, sua teoria diz que o “defeito” no cérebro não está inter-
                                              12
 Fotografia da Ficha Penitenciária. 13
 Dr. Dominique LaPierre — Artigo “The Psychopathic Brain: New Findings” — Psychologie UQAM
— Montreal, Canadá.

relacionado com o comportamento violento. A reduzida massa cinzenta
apresentada por alguns apenas aumenta a sua probabilidade de vir a ser um
indivíduo violento. Seria a combinação entre os fatores biológicos e sociais
que “criaria” um criminoso.
De acordo com muitos pesquisadores, defeitos cerebrais e lesões têm
tido importante ligação com o comportamento violento.
Quando o hipotálamo, o lobo temporal e/ou o cérebro límbico sofrem
estragos, a conseqüência pode ser incontroláveis agressões por parte do
indivíduo.
O hipotálamo regula o sistema hormonal e as emoções. Pela
proximidade física dos centros sexual e agressivo com o hipotálamo, instinto
sexual e violência são conectados, no caso de criminosos sádicos. Um dos
motivos da danificação do hipotálamo é a má nutrição ou lesão.
O cérebro límbico (extremidades) está associado às emoções e
motivações. Quando há uma lesão nessa área, o indivíduo perde o controle
sobre suas emoções primárias, como o medo e a raiva. De acordo com J. Reid
Meloy a falta de emoções do psicopata e sua observação predatória podem
ser comparadas à frieza dos répteis, que não têm a parte límbica do cérebro,
onde residem as memórias, emoções, socialização e instintos paternos. Em
outras palavras, serial killers são corretamente descritos como pessoas de
“sangue frio”, como os répteis.
O lobo temporal, por sua vez, é muito suscetível a ferimento, pois está
localizado onde os ossos do cérebro são mais finos. Lesões sem corte,
incluindo queda em chão duro, podem facilmente danificar essa área,
criando lesões que causam certas formas de amnésia ou ataques epilépticos.
O lobo temporal danificado pode ter como conseqüência um aumento de
respostas agressivas por parte do indivíduo.
Um estudo feito por Pavlos Hatzitaskos15 e outros reporta que uma
                                                                                                                                     14
 Dr. Adrian Raine — Professor de Psicologia da Universidade do Sul da Califórnia. 15
 Dr. Pavlos Hatzitaskos — Artigo “Doctors Miss Treatable Problems in Violent Offenders” — Juvenile
and Family Court Journal/1994 — New York University School of Medicine.

grande porção de prisioneiros no corredor da morte sofreu sérios ferimentos
no cérebro, e aproximadamente 70% dos pacientes que têm graves
ferimentos cerebrais desenvolvem tendências extremamente agressivas.
Alguns desses ferimentos são acidentais, mas muitos deles aconteceram
durante surras na infância. Entre os serial killers que sofreram ferimentos na
cabeça estão: Leonard Lake, David Berkowitz, Kenneth Bianchi e John Gacy.

Serial Killers têm Aparência Estranha?
Infelizmente, serial killers não têm horríveis cicatrizes, desfigurações ou
quaisquer outros sinais físicos que os diferenciem do resto de nós.
Nos livros, cinema e televisão são descritos como altos, horríveis, caras
de mau. Quase nunca é assim. São pessoas comuns, que têm emprego e
podem ser bastante charmosas e extremamente educadas. Todas as milhares
de vítimas que caíram em suas armadilhas tinham quociente de inteligência
normal, e certamente não achavam que estavam se colocando em situações
de risco.

Serial Killers têm a Mesma Motivação?
Todos os seres humanos têm seu comportamento influenciado por
causas biológicas, psicológicas e sociais. Este trio é inseparável e por esse
motivo as experiências com gêmeos criados juntos e aqueles separados ao
nascer são tão importantes.
Alguns serial killers são motivados por seu ódio às mulheres, desejo de
controle, dominação, humilhação ou por vinganças reais e/ou imaginárias.
Dadas às diferenças biológicas e de desenvolvimento existentes entre os
vários serial killers conhecidos, seria ingenuidade acreditar que eles teriam os
mesmos motivos para agir deste ou daquele modo.



Serial Killers têm Problemas com Figuras Femininas?
Este mito é extremamente comum. Ele presume que o serial killer tem
assuntos mal resolvidos com as figuras femininas de sua vida, como bem
exemplificado no filme Psicose, de Hitchcock.
Existem muitos exemplos de serial killers que tinham graves problemas
com sua mãe ou pai, mas muitas outras pessoas também têm e nem por isso
saem por aí cometendo assassinatos em série. Não é motivo suficiente para
explicar esse comportamento.

Serial Killers são Abundantes em Nossa Sociedade?
Serial killers são difíceis de definir e detectar. Em geral escolhem vítimas
descartáveis, como sem-teto ou prostitutas, não chamando a atenção das
autoridades para seus crimes, que podem nunca ser relacionados ou
atribuídos a um só assassino.
Nos EUA se estima que existem entre 35 (número conservador dado
pelo FBI) a 500 (número absurdo) serial killers operando no momento.
É também neste país que se encontram 75% dos serial killers conhecidos
no mundo.
Será que os americanos geneticamente são mais propensos a matar de
forma hedionda? Imagino que a diferença entre eles e o resto da
humanidade é a alta tecnologia de que dispõe a polícia na obtenção de
dados para solucionar os crimes e a enorme facilidade de comunicação e a
troca de informações entre os policiais de todos os Estados.
Os países onde existe maior número de serial killers conhecidos são:
1º EUA
2º Grã-Bretanha
3º Alemanha
4º França

Mas outros países também têm seus serial killers notórios: recentemente,
no México, um criminoso confessou ter matado mais de 100 vítimas. Na
China, o chamado “Cidadão X” pode ser responsável por mais de 1.000
mortes.
Em 1999, a polícia paquistanesa caçava um homem que dizia ter
assassinado 100 crianças. Na Colômbia, Pedro Alonzo Lopez matou mais de
300 pessoas.
Moses Shitole, da África do Sul, matou 38 mulheres.
Um estudo realizado na Inglaterra, em 1997, concluiu que o número de
serial killers estava aumentando no país, e eram proporcionalmente mais
freqüentes que nos EUA.
Outras estatísticas curiosas:
— 84% dos serial killers são caucasianos.
— 93% dos serial killers são homens.
— 65% das vítimas são mulheres.
— 89% das vítimas são caucasianas.
— 90% dos serial killers têm idade entre 18 e 39 anos.

Perfil Criminal — Arma Importante na Investigação
O perfil criminal é só uma ferramenta investigativa disponível para
ajudar a solucionar um crime. Apesar da literatura nos dizer como essa
ferramenta é maravilhosa, a realidade não é tão espetacular se medirmos
quantas capturas foram feitas com base nela desde 1970, quando foi adotada
nos EUA. Em geral, os serial killers são pegos por crimes menores ou pela
astúcia da polícia que consegue um mandado de busca para investigação.
Muito desse mito se dá pela crença que o perfil nos leva a um criminoso
específico, o que não é verdade; isso nos indica um tipo de criminoso, talvez
rascunhe seu histórico psicológico, possivelmente sua aparência física, tipo
de profissão, possível local de residência ou estado civil, entre outras coisas.

Essas conclusões serão baseadas na cena do crime, na reconstrução do
comportamento do assassino e na análise desse comportamento no contexto
do crime. Com esses dados, o número de suspeitos a serem investigados
diminui sensivelmente.
O perfil criminal jamais poderá substituir o tradicional trabalho da
polícia, mas sem dúvida é uma arma importantíssima na investigação
criminal.

Perfil Criminal — é Ciência, não é Magia!
De acordo com os profissionais que montam os perfis criminais, não
existe nada de místico em seu trabalho. É um processo lógico e racional
baseado em estudos psicológicos e sociológicos.
Brent Turvey, cientista forense, desenvolveu um método conhecido
como “Behavioural Evidence Analysis” (BEA)16. Baseia-se nas evidências
físicas de um crime específico, e as conclusões sobre o suspeito advêm do
exame da cena do crime e da análise de seu comportamento.
Esse método é fortemente baseado em ciência forense, conseqüência da
formação de seu criador, e depende da análise científica acurada das provas
para a interpretação dos fatos que envolvem o caso.
Outro método é a Psicologia Investigativa, desenvolvida por um
psicólogo britânico chamado David Canter, mais utilizada na Inglaterra.
A ciência forense, nos dias de hoje, é tão especializada nos EUA, que
realmente ajuda muito a desvendar crimes. É assim subdividida:
Cientista forense geral: sabe um pouco sobre a maioria dos assuntos, tem
um conhecimento do todo e suas possibilidades.
Cientista forense especialista: tem conhecimento sobre um assunto
específico, como por exemplo um serologista. Assim como a microscopia
geral estuda sangue e fluidos corporais, um especialista se aprofunda muito
                                              16
 Análise das Evidências de Comportamento.

nesse assunto.
Cientista forense subespecialista: tem um conhecimento específico sobre
uma subcategoria, como o DNA.
Os procedimentos de Laboratórios Criminais são baseados somente em
ciência, e seus critérios têm que ser admitidos na Corte. Trabalha-se com
fluidos corporais, testes microscópicos com fios de cabelo, fibras e material
botânico.
Outros laboratórios especializam-se em armas de fogo, testando as
evidências de mecanismo e resíduos de tiro.
Laboratórios que analisam documentos são especialistas em
falsificações, adulterações, comparações de assinatura e tintas. Podem dizer
quem fabricou aquela substância apenas verificando sua composição.
A toxicologia também faz parte da serologia, e serve para detectar a
presença de drogas e venenos no corpo.

FBI — Um Passo à Frente na Investigação Criminal
Este é um retrato bastante “hollywoodiano”. Na verdade o FBI só tem
jurisdição para investigar diretamente casos que ocorrem em propriedade
federal ou em reservas indígenas.
O FBI é freqüentemente consultado para fazer o perfil do criminoso em
casos que estão sendo investigados e que já esgotaram todas as outras
possibilidades de averiguação. Nenhum policial gosta de pedir a ajuda a eles
na solução de casos, porque essa atitude indica que os responsáveis
fracassaram em resolver este crime.
Hoje em dia, os policiais locais estão extremamente equipados com
conhecimentos nesta área e, na grande maioria, aptos a solucionar os crimes.
Em Quântico, cidadezinha perto de Washington, fica o Centro Nacional
de Análise de Crimes Violentos, NCAVC17, órgão do FBI. O centro,
                                              17
 NCAVC — National Center for the Analysis of Violent Crime.

considerado local de segurança máxima, não é aberto à visitação e fica a 20
metros sob a terra, exatamente embaixo da academia de treinamento de
agentes do FBI.
A principal arma do centro é um programa de computador único no
mundo até 2001, batizado de VICAP18 — Programa de Análise Investigativa
Criminal. Em funcionamento desde 1985, custou milhões de dólares e levou
27 anos para ser concretizado. O VICAP funciona como um banco de dados
criminal, armazenando e relacionando entre si todos os homicídios não
resolvidos no país.
Quando surge um novo caso, o computador central do VICAP produz
uma listagem de mais de cem assassinatos em que o criminoso teve o mesmo
modus operandi. Em um segundo passo, o programa seleciona os dez
homicídios mais parecidos com o novo. Com esta listagem em mãos, um
perito faz uma profunda análise e avisa a polícia local no caso de o maníaco
poder ser o mesmo.
Exemplo: em junho de 1989, a dona-de-casa Joan Heaton, 39 anos, e
suas filhas Jennifer, 10, e Melissa, 8, foram encontradas mortas a facadas em
sua casa, em Warwick, Rhode Island. A polícia local relacionou o crime a
outro assassinato, ocorrido dois anos antes, o da dona-de-casa Rebecca
Spencer, 27, que morava perto da família Heaton. O agente do FBI Gregg
McCrary foi chamado para traçar o perfil do suspeito: o assassino seria
jovem, negro, viveria no mesmo bairro das vítimas, com um histórico
familiar de pai fraco ou ausente, influência feminina dominante e uma ficha
policial de voyeurismo19.
No mesmo dia, a polícia prendeu Craig Price, 15 anos, que se encaixava
em todos os aspectos levantados pelo agente. O adolescente acabou
confessando os quatro crimes.
O FBI investiga por si só um crime no caso de ser sob jurisdição federal.
                                              18
 VICAP — Violent Criminal Apprehention Program. 19
 Voyeurismo: perversão na qual a satisfação sexual é procurada através da visão de cenas consideradas
eróticas pelo agente.

Em 2001, o VICAP perdeu a posição de melhor do mundo. No Canadá,
a polícia também terá a ajuda de um software chamado “PowerCase”. O
novo sistema custou US$ 30.000.000,00 para ser desenvolvido e o governo
gastará, por ano, cerca de US$ 6.000.000,00 para mantê-lo atualizado.
Segundo os especialistas canadenses, até o FBI atualizará seu sistema com
esse software.
Perfil do Criminoso
O perfil do criminoso, feito por um psicólogo, psiquiatra ou médico
legista, pode ajudar bastante a polícia a encontrar e identificar o assassino.
Aqui estão alguns exemplos de casos em que a ajuda desses homens
forneceu pistas importantes para a investigação.
Segundo Ronald M. Holmes20, perfis psicológicos só são apropriados
em casos nos quais o criminoso é desconhecido e demonstra sinais de
psicopatologias, ou em crimes particularmente violentos e/ou rituais.
Estupradores e incendiários são considerados dois bons tipos de candidatos
para se fazer um perfil criminal.
Como já dito anteriormente e, raramente um perfil criminal resolverá
um crime, mas pode ajudar bastante numa investigação. Quando a polícia
não tem pista nenhuma, o perfil pode sugerir uma ajuda potencial no
caminho a seguir.
Em última análise, fazer o perfil da cena do crime e do criminoso tem
como contribuição mínima estreitar o número de suspeitos, esboçar o motivo
da ação e conectar ou não o crime a outros similares. No máximo, pode
solucioná-lo.
Fazer o perfil de um criminoso é mais fácil quando o ponto de partida é
o motivo do crime. No caso dos serial killers, este trabalho é dificílimo, uma
vez que o motivo é sempre psicopatológico e desconhecido. A dificuldade
                                              20
 Ronald M. Holmes, professor de administração de justiça na Universidade de Luisville, Ky.

consiste no fato de o investigador ter dificuldades em entender a lógica
totalmente particular daquele serial killer.
Para fazer um perfil objetivo e competente, dois conceitos devem ser
aceitos pelos investigadores e criminalistas antes de tentarem entender a
cabeça de um serial killer. geralmente ele já viveu seu crime em suas fantasias
inúmeras vezes antes de realizá-lo com a vítima real, e a maioria de seus
comportamentos satisfaz um desejo, uma necessidade. Aceitando essas duas
premissas, o investigador pode deduzir os desejos ou necessidades de um
serial killer a partir de seu comportamento na cena do crime.
Hoje em dia, vários seriados de televisão e filmes têm como figura
central o profiler, o criminalista que faz o perfil psicológico de um homicida.
Na maioria dos casos, acabam passando a impressão de que a experiência na
profissão é que “vale”, ou contam com ajuda “divina” para tirar suas
conclusões. Esses personagens estão longe da verdade. Também é necessário
um conhecimento profundo em psiquiatria, psicologia e ciência forense.

Jack, O Estripador
Jack, O Estripador, é o pai dos modernos serial killers. Ele aterrorizou as
ruas de Londres no fim do século XIX, mais precisamente em 1888, quando
assassinou brutalmente pelo menos sete mulheres, todas prostitutas.
Até hoje, ninguém sabe a identidade de Jack. Como seus seguidores,
tinha prazer em zombar da polícia e enviar cartas aos jornais gabando-se de
seus feitos.
Era canibal e arrancou os órgãos internos de quatro de suas vítimas.
Chegou a mandar numa carta um pedaço do rim de uma delas, quando as
autoridades duvidaram da autenticidade de suas correspondências.
Dr. Thomas Bond, médico legista que fez a autópsia em Mary Kelly (a
última vítima de Jack, O Estripador), foi inicialmente chamado para avaliar o
conhecimento cirúrgico do assassino. Observou que “... a ponta do lençol à

direita da cabeça da vítima estava muito cortada e saturada de sangue,
indicando que a face teria sido coberta com o lençol na hora do ataque”. A
observação feita por Bond levou ao estudo do comportamento do estripador
na cena do crime, incluindo o padrão de ferimento imposto à vítima. Ele
sugeriu aos investigadores para procurar um quieto e inofensivo homem,
provavelmente na meia-idade e caprichosamente vestido. Bond constatou
que as mutilações feitas nas mortas foram executadas pelas mesmas mãos e
tinham o mesmo padrão.
Atualmente, o trabalho consiste em examinar uma série de casos para
concluir se existe relação entre eles, baseados na cena do crime e nas vítimas.
É o que hoje chamamos de “assinatura”, ou seja, comportamentos ou ações
que preenchem as necessidades psicológicas ou físicas do suspeito.

Adolf Hitler
Provavelmente, um dos casos mais conhecidos do uso de perfil
criminal foi na Segunda Guerra Mundial, quando a CIA pediu ao psiquiatra
Dr. Walter Langer o perfil de Adolf Hitler. Queriam saber quais suas
ambições, que tipo de pessoa ele era e qual atitude podia-se esperar dele ao
final da guerra. O mais notável no perfil desenvolvido foi justamente no que
diz respeito a suas atitudes pós-guerra.
A possibilidade de morte natural estava fora de questão, uma vez que
tinha boa saúde. Também se pensou que podia se refugiar em outro país,
mas decidiram que esta hipótese estava incorreta porque ele genuinamente
acreditava ser o salvador de seu próprio país. Outras possibilidades
consideradas também foram rejeitadas, como assassinato, golpe militar,
morte em batalha.
Langer acreditou que a saída utilizada por Hitler seria o suicídio, o que
se tornou verdade no momento em que ele se matou no bunker onde estava
escondido com Eva, sua esposa, na hora em que a vitória dos aliados

estabeleceu-se. Esse tipo de perfil de líderes inimigos foi provavelmente
utilizado durante outras guerras, como a do Vietnã e a do Golfo.

O Unabomber
O perfil do Unabomber foi iniciado quase 18 anos antes de ele ser preso,
quando um pacote-bomba explodiu nas mãos de um oficial policial no
campus da Northwestern University, perto de Chicago, em 1978. Depois
disso, enviou 32 pacotes explosivos por todo o país. Suas vítimas eram
cientistas, pessoas das indústrias de computador e políticos. Apesar de ter
matado apenas três pessoas, 23 foram severamente feridas por suas cartas
mortais.
O Unabomber construía suas bombas com precisão e tinha amor pelo
que fazia, manualmente, de forma artesanal. Cada detalhe e fragmento era
estudado pelas autoridades. Cada rua e vizinhança dos ataques passou pelo
“pente fino” das investigações, bem como o histórico de cada vítima. Suas
cartas para a mídia foram analisadas palavra por palavra. No fim dos traba-
lhos, quase dezoito anos depois, os investigadores sentiam que conheciam o
Unabomber intimamente, como se fosse da família.
Em 1995, ao entrarem na cabana do bombardeador em série, localizada
em lugar remoto das montanhas, deram-se conta de que era exatamente o
que esperavam encontrar. Mas, neste caso, jamais teriam localizado o
criminoso sem a ajuda de seus familiares. Seu irmão, ao ler o manifesto de
mais de 35.000 palavras publicado nos jornais por exigência do criminoso
procurado, reconheceu o estilo do documento. Enviou à polícia federal
cartas escritas por ele encontradas no porão de sua mãe em troca da
suspensão da pena de morte quando julgado.
Theodore J. Kacynski, professor de matemática na Universidade de
Berkeley e graduado em Harvard — o Unabomber, conseguiu agir impune
por longos 17 anos, sem que o perfil criminal levasse à sua localização.


O Estrangulador de Boston
De 14 de junho de 1962 a 4 de janeiro de 1964, uma série de ataques
ocorreu em Boston, perfazendo um total de 13 assassinatos sexuais. As
vítimas eram encontradas mortas em seus apartamentos, atacadas
sexualmente e freqüentemente amordaçadas com artigos de seu próprio
vestuário. O que era bastante característico é que o Estrangulador de Boston
deixava suas vítimas nuas, cuidadosamente colocadas em poses
provocativas com as cordas do estrangulamento amarradas com um laço,
como se fosse um ornamento, em volta do pescoço. Todos os esforços em
identificar o responsável foram infrutíferos.
Em abril de 1964, Dr. James Brussels, famoso psiquiatra nova-iorquino,
foi chamado para juntar-se ao comitê psiquiátrico que tentava ajudar na
investigação.
Enquanto outros membros do comitê atribuíam os assassinatos a dois
indivíduos, baseados na diferença de idade entre as vítimas, Brussels
manteve-se firme na opinião de que se tratava de uma só pessoa.
Os crimes cessaram misteriosamente em 1965.
Em novembro de 1964, um homem chamado Albert DeSalvo chamou a
atenção das autoridades. Ele estava preso por outros crimes, mas confessou
ao seu psiquiatra ser o Estrangulador de Boston. Seu perfil era tão igual ao que
Brussels traçara que a polícia o identificou como tal e arquivou o caso, não
despendendo mais tempo ou energia na identificação e prisão do tal
estrangulador.
Em 1973, DeSalvo foi apunhalado por outro preso em sua cela, e até
hoje ninguém foi acusado formalmente pelos crimes do Estrangulador de
Boston.
Em 1999, um esquadrão policial americano que estuda somente crimes
considerados “já frios”, sem pistas, ainda tentou comprovar, através de

testes de DNA, se DeSalvo era realmente o Estrangulador de Boston. As
amostras de esperma encontradas nas vítimas não foram localizadas para
concluir os testes. A verdadeira identidade do serial killer ainda é um
mistério.
A Investigação do FBI
A análise da cena do crime feita pelo FBI envolve seis passos.

Matéria-Prima para o Perfil
Essa primeira fase envolve coletar e avaliar todos os materiais
relacionados com um caso específico. Compõe-se de fotografias tiradas da
cena do crime e da vítima, todo o histórico dela, relatório da autópsia, outros
exames forenses relacionados com o caso e qualquer outra informação
relevante para esboçar uma idéia do que ocorreu antes, durante e depois do
crime. Este estágio servirá de base para todos os outros da investigação, e se
estiver incorreto ou com poucas informações toda a análise subseqüente será
afetada.

Processo de Decisão Modelo
Neste estágio se organiza a informação obtida anteriormente em uma
lógica e padrão coerentes. Também se estabelecem quantas vítimas estão
envolvidas, para saber se se trata de um homicida, um assassino de massa,
um bêbado ou um serial killer.
Outros fatores são determinados neste estágio, como qual o objetivo e a
prioridade do crime (ganho material ou vítima), o status de risco da vítima
(uma prostituta tem risco maior que uma dona-de-casa), e o quanto o
criminoso se arriscou para cometer o ato. O tempo necessário para cometer
aquele crime daquele modo é estabelecido, bem como os locais de apreensão
da vítima e de sua morte.


Avaliação do Crime
É a reconstrução da seqüência de eventos, do comportamento
específico da vítima e do agressor.
Esse procedimento irá ajudar o analista a entender o papel que cada
indivíduo tem no crime e a estabelecer o subseqüente perfil do criminoso.
Neste estágio, o investigador tem que “andar com os sapatos” do
criminoso e da vítima, ou como gosta a mídia, entrar na mente do assassino.
É aqui que o crime é rotulado como organizado ou não. Aqui também se
determina o modus operandi do criminoso e a existência de uma “assinatura”.

Perfil Criminal
O perfil criminal envolve o histórico do passado, histórico médico e
características comportamentais do agressor que tentam descrever a pessoa
que cometeu aquele crime, facilitando a busca da polícia. No modelo do FBI,
esse estágio pode envolver orientações sobre como melhor entrevistar o
suspeito. Também aqui será informado aos investigadores como identificar e
prender o assassino.
Um perfil pode ter apenas alguns parágrafos ou muitos, várias páginas,
dependendo da quantidade de informações enviadas ao especialista.
Freqüentemente encontramos nos perfis criminais as seguintes informações:
idade, raça, sexo, aparência geral do criminoso, seu status de relacionamento,
tipo de ocupação e dados sobre seu emprego, educação ou vida militar.
Às vezes, são incluídas informações sobre se o criminoso vive na área
onde foi cometido o crime ou se o local é familiar para ele, algumas
características básicas sobre sua personalidade e objetos significantes que
deve possuir, como revistas pornográficas. Também é sugerido aqui o
método de aproximação que o criminoso usa para contatar sua vítima.
John Douglas “caçou”, através de perfis criminais feitos por ele, alguns

dos mais notórios e sádicos criminosos de todos os tempos: “The Trailside
Killer” (São Francisco), “The Altlanta Child Murderer”, “The Tylenol
Poisoner”, Robert Hansen, etc. Foi o primeiro a desenvolver um perfil
psicológico do Unabomber.
Entrevistou e estudou dúzias de serial killers e assassinos, incluindo
Charles Mason, Sirhan Sirhan, Richard Speck, John Wayne Gacy e David
Berkowitz, para conseguir “entrar” em suas mentes.
Chegou a emitir sua opinião sobre o perfil criminal de Francisco Assis
Pereira, o “Maníaco do Parque”, serial killer de São Paulo.

A Investigação
Nesta etapa, o atual perfil é enviado para as agências que o
requisitaram e incorporado à sua investigação. Se não há suspeitos ou novas
evidências, o perfil é reavaliado.

A Prisão
Aqui se deve checar o perfil produzido com as características do
suspeito. Pode ser extremamente difícil, uma vez que ele pode nunca ser
preso; pode ser preso em outra jurisdição e não estar disponível para esta
checagem; pode ser preso sob outra acusação ou simplesmente encerrar sua
atividade criminal.
O número de casos resolvidos representa menos de 50% dos casos nos
quais foram feitos perfis.
Organizados e Desorganizados
TRANSGRESSORES ORGANIZADOS TRANSGRESSORES DESORGANIZADOS
Inteligência média para alta. Inteligência abaixo da média.
Metódico e astuto. É capturado mais rapidamente.
Não realizado profissionalmente. Distúrbio psiquiátrico grave.

Educação esporádica. Contato com instituição de saúde mental.
Socialmente competente, mas anti-social
e de personalidade psicopata.
Socialmente inadequado — relaciona-se
só com a família mais próxima ou nem
isso.
Preferência por trabalho especializado e
esporádico. Queda para profissões que o
enalteçam como macho, tipo barman,
motorista de caminhão, trabalhador em
construção, policial, bombeiro ou
paramédico.
Trabalhos não-especializados, que
tenham pouco ou nenhum contato com o
público (lavador de pratos,
manutenção).
Sexualmente competente. Sexualmente incompetente ou nunca teve experiência sexual.
Nascido em classe média-alta. Nascido em classe baixa.
Trabalho paterno estável. Trabalho paterno instável.
Disciplina inconsistente na infância. Disciplina severa na infância.
Cena planejada e controlada. A cena do
crime vai refletir ira controlada, na
forma de cordas, correntes, mordaça ou
algemas na vítima.
Cena do crime desorganizada.
As torturas impostas à vítima foram
exaustivamente fantasiadas. Nenhuma ou pouca premeditação.
Temperamento controlado durante o
crime. Temperamento ansioso durante o crime.
Movimenta-se com carro em boas
condições. Viaja muito.
Em geral, não tem carro, mas tem acesso
a um.
Traz sua arma e instrumentos. Utiliza arma de oportunidade, a que tem na mão.
Leva embora sua arma e instrumentos
após o crime.
Freqüentemente deixa a arma do crime
no local.
A vítima é uma completa estranha, em
geral mulher, com algum traço
particular ou apenas uma vítima
conveniente.
Vítima selecionada quase ao acaso.
A vítima é torturada e tem morte
dolorosa e lenta.
Vítima rapidamente dominada e morta
— emboscada.

Crimes brutais, com extrema violência e
overkill (ferimentos maiores do que os
necessários para simplesmente matar).

Rosto da vítima severamente espancado,
numa tentativa de desfigurar e
desumanizá-la, ou uso pela vítima de
máscara/venda.
A vítima é freqüentemente estuprada e
dominada através de ameaças ou
instrumentos.
Se a vítima foi atacada sexualmente, o
ataque freqüentemente foi post-mortem.

 Mutilações no rosto, genitais e seios são comuns.
O corpo é levado e muitas vezes
esquartejado, para dificultar a
identificação pela polícia.
O corpo é freqüentemente deixado na
cena do crime. Quando levado, é por
lembrança, e não para evitar provas.
Uso de álcool pelo agressor. Mínimo uso de álcool pelo agressor.
Stress precipitador de situações. Quando em stress, age impulsivamente.
Vive com parceiro ou é casado. Tem
uma importante mulher nas suas
relações.
Vive sozinho ou com os pais. Em geral,
solteiro.
Realiza seus crimes fora de sua área de
residência ou trabalho.
Mora ou trabalha perto da cena do
crime.
Segue os acontecimentos relacionados ao
crime pela mídia.
Mínimo interesse nas novidades da
mídia.
Em geral da mesma raça que a vítima,
mas composição étnica local deve ser
considerada.
Em geral da mesma raça que a vítima,
mas composição étnica local deve ser
considerada.
Provavelmente foi um aluno problema. Saiu cedo da escola. Estudante marginal.
Provavelmente já foi preso por violência
interpessoal, ataque sexual. Brigas de
soco são comuns.
Já deve ter sido preso por voyeurismo,
ladrão de fetiches, assalto, exibicionismo
ou outros delitos menores.
Em geral, muitas multas por
estacionamento proibido. 
Bem apessoado.
Magro, provavelmente com acne ou
outra marca física que contribua para a
impressão de que é diferente da
população em geral.
Tem aproximadamente a idade da
vítima. A média de idade fica entre 18 e
45 anos, em geral 35.
Entre 16 e 39. Em geral, age entre 17 e 25.
Pode trocar de emprego ou deixar a
cidade.
Mudança de comportamento
significante, como álcool ou drogas.

Alguns indivíduos acham que os métodos do FBI não são confiáveis e
que as polícias locais hoje têm mais conhecimentos nessas intrincadas
investigações.
Freqüentemente, um transgressor organizado pode deixar uma cena de
crime extremamente desorganizada. Isso levaria os analistas que usam os
métodos do FBI a imaginar que ele faria parte do grupo errado,
estabelecendo características errôneas a seu respeito.
Apesar disso, hoje este método ainda é o mais usado no mundo e o FBI

treina investigadores de todas as partes do planeta para, utilizando-se dele,
determinar o perfil de um criminoso.
Psicologia Investigativa
A Psicologia Investigativa teve início em 1985, quando David Canter foi
chamado pela Scotland Yard para discutir a possibilidade de integrar a
investigação técnica com conceitos psicológicos.
A diferença entre o método de David Canter e o do FBI é que, apesar de
ambos serem baseados em dados estatísticos, Canter continuamente atualiza
seus dados sobre a população transgressora em que baseia seu método.

Método de David Canter
Os transgressores conhecidos são estudados, as tipologias são definidas
e um crime cometido por um desconhecido será comparado com este grupo.
As características do novo criminoso serão definidas a partir de sua
semelhança na comparação feita com o grupo de transgressores
identificados.
A aplicação do trabalho de Canter é baseada em cinco aspectos de
interação entre vítima e agressor, conhecidos como fatores-modelo:
coerência interpessoal, importância da hora e local do crime, características
criminais, carreira criminal e consciência forense.
Coerência Interpessoal
Este fator-modelo refere-se ao quanto a atividade criminal do indivíduo
se inter-relaciona com a sua vida pessoal:
Um psicólogo deve estar apto a determinar alguma coisa sobre o
criminoso a partir da vítima ou do modo como interagiu com ela.
Freqüentemente, a vítima representa alguém na vida ou no passado do
agressor (como sua mãe ou ex-namorada), além do fato de o serial killer, na

maioria das vezes, escolher como vítimas pessoas de sua própria raça.
Importância da Hora e Local
O local que o criminoso escolhe para matar tem sempre alguma
significância para ele. Os serial killers têm menos probabilidade de matar ou
estuprar em locais não familiares, uma vez que são crimes de controle e não
se sentirá tão seguro num ambiente estranho.
Além disso, se os crimes estão localizados dentro de uma certa
disposição geográfica, há grandes chances de o criminoso viver ou trabalhar
nessa área.
Pode indicar também o horário de trabalho dele, uma vez que o ataque
à vítima se dá em sua hora de “lazer”.
Características Criminais
É a pesquisa para desenvolver subsistemas de classificação do grupo
transgressor, em vez de apenas dois grupos (organizados e desorganizados),
como é utilizado no FBI.
Carreira Criminal
É a avaliação que vai determinar quanto o agressor pode estar
envolvido em atividades criminais no passado e de que tipo seriam elas. A
forma de transgredir não muda, apesar de poder aumentar a violência dos
crimes, a sofisticação na maneira de executá-los ou a riqueza de detalhes
relacionados a eles. É mais provável encontrar evidências nos primeiros
crimes de um serial do que nos últimos, por ser mais descuidado e ignorante
quanto aos métodos investigativos.
Avaliação Forense
Observa-se, nesta etapa, qualquer conhecimento que o transgressor
tenha sobre técnicas policiais e procedimentos de coleta de evidências.
Inclui-se aqui o uso ou não de luvas, camisinha ou a remoção de qualquer

objeto que possa conter fluidos corporais do agressor. Um exemplo que
indica que o agressor sexual não é primário é o modo como ele limpa ou
banha a vítima depois do ataque. Ele pode também exigir que ela se banhe
após o estupro, ou penteie os cabelos pubianos para remover os seus
próprios. Se a polícia conclui que este transgressor não é primário, começa a
pesquisar entre outros conhecidos e elimina aqueles que utilizam métodos
diferentes.
Canter também desenvolveu um modelo de comportamento de
transgressores, conhecido como teoria circular.
Dois modelos de transgressores conhecidos como “vagabundos” e
“viajantes diários” foram desenvolvidos a partir dessa teoria. Os do modelo
“vagabundo” supõem que o agressor sai de casa num repente para cometer
seu crime, em geral na sua vizinhança, enquanto o “viajante” supõe que o
transgressor viaja uma boa distância de sua casa antes de se engajar em uma
atividade criminal.
Estes gráficos são apenas ilustrativos, uma vez que é impossível saber,
antes de prendê-lo, em que categoria se enquadra. Estudos feitos com
transgressores conhecidos demonstram que este padrão é sempre repetido,
num caso ou noutro.
Outro fato observado é que quanto maior o número de vítimas mais
perto de casa o criminoso se livra do corpo, pois está cada vez mais confiante
na sua não captura.








Gráfico do Campo de Ação do “Vagabundo”



Gráfico do Campo de Ação do “Viajante”




Método de Brent Turvey
Outro estudioso de perfis criminais é Brent Turvey21, cientista forense,
que também desenvolveu seu método de análise, o “Behavioural Evidence
Analysis”22, ou simplesmente BEA.
Baseado na premissa de que os transgressores sempre mentem sobre
suas ações, muitas vezes a única coisa com a qual se pode contar na
investigação é a reconstrução do comportamento do transgressor.
A maior diferença entre este método e os anteriores é que não se baseia
em estatísticas.
A análise das evidências comportamentais (BEA) é dividida em quatro
passos principais.
Análise Forense Questionável
A análise forense é questionável no sentido de que uma evidência pode
ter várias interpretações ou significados, e o objetivo deste passo é
justamente estabelecer os vários significados de uma evidência. Esta análise
é feita com base em fotos/vídeos/esboços da cena do crime, relatórios de
investigadores, registros das evidências, relatório de autópsia/vídeos/fotos,
entrevistas com testemunhas e vizinhos, qualquer outra documentação e/ou
entrevistas ou informação relevante, mapa do trajeto da vítima antes da
morte e seu histórico.
Vitimologia
O segundo passo envolve uma profunda análise da vítima.
O objetivo é produzir o retrato dela de forma acurada e precisa,
determinando o porquê, como, onde e quando em particular foi escolhida.
Isso poderá lhe dizer muita coisa sobre o transgressor.
Uma das características da vítima que pode ajudar no perfil do
                                              21
 Brent Turvey, Psiquiatra Forense americano. 22
 Análise das evidências comportamentais.

assassino é a sua constituição física: se durante o estágio de reconstrução do
crime nota-se que o criminoso carregou-a por alguma distância antes de
dispor do corpo, teremos que concluir que ele possui alguma força muscular
ou não trabalha sozinho. Da mesma forma, se o transgressor foi capaz de
“levar” a vítima sem nenhum esforço, podemos concluir ou que eram
conhecidos (transgressor é socialmente adequado e capaz de fazer a vítima
acompanhá-lo) ou que utilizou alguma encenação (transgressor fingindo-se
de autoridade).
Características da Cena do Crime
Este passo envolve a determinação do número de fatores relevantes na
localização da cena do crime, onde está localizado em relação aos outros
delitos e como o transgressor se aproxima da vítima.
É sabido que a cena onde acontecem os fatos tem especial significado
para o criminoso e pode fornecer pistas vitais sobre quem é ele.
Características do Transgressor
Este passo é a fase final do BEA e irá levantar o comportamento e a
personalidade do transgressor.
Algumas características do agente deverão ser analisadas. São elas:
constituição física, sexo, tipo de trabalho e hábitos, remorso ou culpa, tipo de
veículo utilizado, histórico criminal, nível de habilidade, agressividade,
localização da moradia em relação ao crime, histórico médico, estado civil e
raça. Em conjunto, essas informações vão fornecer um retrato do criminoso
que pode ser comparado com outros, conhecidos ou suspeitos.
Utilização do BEA
O perfil montado com o método BEA é útil em duas fases distintas.
Na primeira, fase investigativa, temos um agressor desconhecido de
um crime conhecido: reduzir o número de suspeitos ajuda na ligação deste

crime com outros que tenham o mesmo padrão, na avaliação do
comportamento criminal para uma escalada de violência, provê
investigadores com estratégias adequadas e dá uma trilha de movimentos a
serem seguidos na investigação.
Na fase de julgamento, identificado o agressor de um crime conhecido,
o perfil BEA ajuda a determinar o valor de uma determinada evidência para
um caso em particular, auxilia o desenvolvimento de uma estratégia de
entrevista ou interrogatório, de um insight dentro da mente do assassino,
compreendendo suas fantasias e motivos, relaciona a cena do crime com o
modus operandi e a “assinatura” comportamental.
O BEA não utiliza dados estatísticos para criar um perfil do criminoso e
depende principalmente da prática e conhecimento do analista encarregado.
A qualidade do produto final também vai depender de quanta informação o
analista tinha a sua disposição.
Utiliza-se da ciência forense para a reconstituição do crime; e da ciência
forense, da psicologia e da psiquiatria, para interpretação do
comportamento do criminoso.
De todas as técnicas existentes, a BEA é a mais recente das novas
escolas de pensamento.
Caso Ilustrativo de Análise pelo Método BEA23
O corpo de uma mulher é encontrado nu em uma remota localização na
floresta, com quatro superficiais e cuidadosas incisões no peito, transversais,
sobre os mamilos. A área genital da vítima foi completamente removida com
um instrumento afiado. Petéquias24 são evidentes nos olhos, pescoço e face
acima do local padrão de estrangulamento no pescoço. Não foram
encontrados sangue ou roupa na cena do crime. A vítima tinha sulcos de
ligaduras em volta dos pulsos com contusões esfoladas, arranhadas, mas
                                              23
 Caso retirado do artigo “Deductive Criminal Profiling: Comparing Applied Methodologies Between
Inductive and Deductive Criminal Profiling Techniques”, de Brent E. Turvey, M.S., em janeiro de 1998. 24
 Hemorragia cutânea; pequena púrpura puntiforme ou lenticular.

nenhuma ligadura foi encontrada na cena do crime. Frescas impressões de
pneus foram encontradas na lama aproximadamente a 15 metros de onde
estava o corpo.
CONCLUSÃO 1: o criminoso, neste delito em particular, amarrou a vítima
para restringir seus movimentos enquanto ela estava viva, uma vez que
se notam sinais de luta e abrasões em volta dos pulsos.
CONCLUSÃO 2: nosso criminoso removeu as ligaduras com as quais
amarrou a vítima antes de dispor do corpo morto, conclusão advinda
do fato de nenhuma ligadura ter sido encontrada ali.
CONCLUSÃO 3: a vítima parecia asfixiada pelo pescoço através de
ligadura de material leve como um tecido, fato indicado pela marca
padrão no pescoço e pelas petéquias.
CONCLUSÃO 4: o local onde foi encontrado o corpo era apenas o cenário
que o criminoso armou para isso; o delito não foi cometido ali, uma vez
que não foi encontrado sangue nenhum.
CONCLUSÃO 5: o criminoso tem um carro consistente com as marcas de
pneu encontradas nas proximidades do corpo. Por tais sinais, pode-se
ter uma idéia da marca ou do tipo do carro utilizado.
Todos esses detalhes juntos indicam a competência e a inteligência do
criminoso, que parece capacitado a manter um emprego, e pressupõe-se que
ele é um sádico sexual. Isso é dedutível pelo fato de ele ter um veículo, o uso
de uma segunda cena para deixar o corpo, evitando deixar evidências, a
remoção da genitália da vítima e os deliberados cortes nos mamilos, feitos
para causar dor e não ferimentos sérios.
Análise da Cena do Crime
A maioria das cenas de crime nos conta uma história, e como todas as
histórias, tem personagens, uma trama, começo, meio e fim.

Padrões de fala, de escrita, gestual verbal ou não verbal e outros modos
e padrões dão forma ao comportamento humano. Essas características
individuais, quando utilizadas em conjunto, fazem cada pessoa ter um modo
específico de agir e reagir.
Aprender a reconhecer padrões de comportamento em cenas de crime
possibilita aos investigadores descobrir muitas coisas sobre o transgressor, e
também a distinguir entre agressores diferentes cometendo o mesmo tipo de
crime.
Existem três possíveis manifestações do comportamento do agressor na
cena do crime: modus operandi, personalização ou “assinatura” e organização
da cena.

Modus Operandi — M. O.
O modus operandi é estabelecido observando-se que arma foi utilizada
no crime, o tipo de vítima selecionada e o local escolhido.
O M.O. é dinâmico e maleável, na medida em que o infrator ganha
experiência e confiança. Investigadores cometem graves erros dando muita
importância ao M.O. quando conectam crimes.
Por exemplo, um ladrão novato que, num primeiro crime estilhaçaria
uma janela para entrar numa casa, logo aprende que com este método o
barulho é grande e o roubo, apressado. Numa próxima vez, levará
instrumentos apropriados para arrombar com calma e escolher o que levar.
Minimizará o barulho e maximizará o lucro. Assim, o ladrão refinou seu
M.O.
Nathaniel Code Jr.25, de Shreveport, Louisiana, foi condenado por
assassinato. O júri determinou que, entre 1984 e 1987, ele matou oito pessoas
em três ocasiões diferentes.
Veremos aqui que havia várias disparidades entre as três cenas do
                                              25
 Nathaniel Code foi condenado à morte.

crime.
a. o agressor amordaçou a primeira vítima com uma peça de material
obtida na cena do crime, mas trouxe sua própria fita adesiva para
usar nas outras sete vítimas.
b. a primeira vítima foi apunhalada e retalhada pelo agressor, enquanto
as outras sete, além de apunhaladas e retalhadas, também levaram
tiros e mostravam sinais de estrangulamento com algum tipo de
tecido.
c. as vítimas tinham idade entre 8 e 74 anos, incluindo os dois sexos,
mas todas eram negras.
d. o agressor roubou dinheiro na primeira cena, mas não nas outras
duas.
Considerando essas diferenças encontradas nas três cenas, poderia só
um homem ser ligado a todas elas? Poderiam as características do M.O. e da
vitimologia eliminar as conexões entre o agressor e os três crimes?
No caso de Nathaniel Code, o M.O. e a vitimologia não o ligariam aos
três crimes, mas ele deixou sua “assinatura” em todos eles (fita adesiva).

Assinatura
O agressor serial sempre tem um importante aspecto comportamental
em seus crimes: ele sempre os assina.
A “assinatura” é sempre única, como uma digital, e está ligada à
necessidade do serial em cometer o crime. Eles têm necessidade de expressar
suas violentas fantasias, e quando atacar, cada crime terá sua expressão
pessoal ou ritual particular baseado em suas fantasias. Simplesmente matar
não satisfaz a necessidade do transgressor, e ele fica compelido a proceder a
um ritual completamente individual.
Um exemplo de “assinatura” é um estuprador que abusa de linguagem

vulgar, ou prepara um roteiro para a vítima repetir, ou canta certa canção.
Diferente do M.O., a “assinatura” nunca muda, mas alguns aspectos
dela podem se desenvolver, como serial killers que mutilam suas vítimas post
mortem cada vez mais. As “assinaturas” podem não aparecer em todas as
cenas de crime do mesmo criminoso, por contingências especiais como
interrupções ou reação inesperada da vítima.
São consideradas “assinaturas” quando o criminoso:
— Mantém a atividade sexual em uma ordem específica.
— Usa repetidamente um específico tipo de amarração da vítima.
— Inflige a diferentes vítimas o mesmo tipo de ferimentos.
— Dispõe o corpo de certa maneira peculiar e chocante.
— Tortura e/ou mutila suas vítimas e/ou mantém alguma outra forma
de comportamento ritual.

Afinal, Qual a Diferença?
Modus operandi é comportamento erudito. É o que o criminoso faz para
cometer o delito, e é dinâmico, pode mudar.
“Assinatura” é o que o criminoso faz para se realizar, é produto da sua
fantasia, e é estático, não muda.
Utilizando um exemplo fictício, fica mais fácil entender a diferença
entre M.O. e “assinatura”.
Um estuprador entra numa residência e encontra marido e mulher.
Manda que o marido se deite no chão de barriga para baixo, coloca uma
xícara com pires sobre suas costas e diz ao marido que, se ouvir um barulho
da xícara caindo ou se movendo, mata sua esposa. Em seguida, se dirige
com a mulher para o quarto e a estupra.
Outro estuprador entra numa casa, só encontra a mulher. Faz com que
ela utilize qualquer desculpa e traga o marido para casa. Quando ele chega,
o amarra e o faz assistir ao estupro de sua esposa.


O primeiro estuprador tem um M.O.,e não uma “assinatura”. Seu
objetivo é apenas estuprar a mulher sem ser ameaçado pela outra vítima.
O segundo estuprador tem uma “assinatura”. Estuprar a mulher não é
suficiente; para satisfazer suas fantasias ele precisa estuprá-la na frente do
marido, para humilhá-lo e dominá-lo.
Um assaltante de banco que manda as pessoas tirarem a roupa está
tendo um M.O. inteligente, pois todos terão que se vestir antes de chamar a
polícia e ninguém sairá correndo nu atrás dele. Agora, um assaltante de
banco que faz o mesmo, mas fotografa as pessoas em poses eróticas, já
demonstra ter uma “assinatura”, porque só roubar o banco não satisfaz suas
fantasias psicossexuais.
Apesar do M.O. ter muita importância, ele não pode ser utilizado
isoladamente para conectar crimes. Já a “assinatura”, mesmo que evolua,
sempre terá o mesmo tema de ritual, no primeiro ou no último crime, agora
ou daqui a dez anos.
John E. Douglas (F.B.I.) acha que é mais importante encontrar a
“assinatura” do que as semelhanças entre as vítimas, uma vez que o serial
killer sempre expressará seu ódio através de um ritual, e não de um aspecto
físico do agredido.

Exemplos Reais
Ronnie Shelton
Ronnie Shelton26, estuprador serial de Ohio,
apelidado de “The West Side Rapist”27, cometeu
mais de 50 estupros. Quando foi acusado e
condenado por 28 deles, sua sentença foi de 1.000
                                              26
 Ronnie Shelton: State of Ohio versus Ronnie Shelton — Cometeu seus crimes em Cleveland, 1989. Era
chamado pela mídia de “The West Side Rapist”. 27
 The West Side Rapist: O Estuprador da Região Oeste. 

anos. Sua “assinatura” foi seu algoz.         28                               
Verbalmente, Shelton era excepcionalmente vulgar e degradante. Ainda
fazia comentários do tipo “vi você com seu namorado”, ou “você sabe quem
eu sou”. A informação de que aquele estuprador andava pelas vizinhanças
aterrorizava completamente as vítimas. 
O ritual de Shelton no ataque sexual era o centro de sua ação: ele
estuprava as mulheres e no final retirava seu pênis para ejacular sobre seus
estômagos ou seios. Freqüentemente se masturbava sobre elas ou entre seus
seios, ou forçava-as a masturbá-lo manualmente. Também usava as roupas
das vítimas para limpar a ejaculação, as forçava a fazer sexo oral e a engolir
seu esperma. Essa combinação de atos era a “assinatura” de Shelton.
O M.O. de Shelton consistia em entrar na casa da vítima pela janela ou
entrada do pátio que dava para bosques, ou lugares onde pudesse se
esconder com facilidade. O horário de ataque era sempre tarde da noite ou
de manhãzinha. Usava uma máscara de esqui, meia ou cachecol. Convencia
a mulher de que não estava lá para estuprá-la e sim para roubá-la. Assim,
quando tinha tudo sob controle, estuprava-a. Não havia reação, pois só
percebiam a sua violência quando ele as jogava no chão ou colocava uma
faca ou arma semelhante em suas gargantas. Falava para as vítimas não o
olharem, cobrirem seus olhos ou “não me olhe e eu não vou machucar você
ou seus filhos”. A conexão de Shelton com esses 28 ataques sexuais foi feita
através de seu M.O. e “assinatura”, servindo para condená-lo.
David Vasquez
David Vasquez29 foi condenado pelo assassinato de uma mulher de 34
anos, em Arlington, Virgínia. Foi violentada e morreu estrangulada. O
assassino a deixou deitada com o rosto para baixo e com as mãos amarradas
às costas. Ele usou somente nós em excesso, e levou a ligadura dos pulsos
                                              28
 Fotografia da Ficha Penitenciária 29
 David Vasquez cometeu seus crimes em Arlington, Virgínia — 1984.

até o pescoço por sobre o ombro esquerdo. O corpo foi deixado exposto.
O atacante havia gastado bastante tempo na cena do crime. Fez
extensas preparações para amarrar a vítima, permitindo que a controlasse
com facilidade. Suas necessidades mandaram que ele a movesse por toda a
casa, exercendo total dominação sobre ela. Parecia até que a havia levado ao
banheiro e a obrigado a escovar os dentes.
Vasquez era limítrofe de Q.I. Acreditando que iria dificultar o processo
para provar sua inocência, seus advogados o convenceram que receberia
pena de morte no caso de ser levado ao tribunal. Assim, ele se declarou
culpado e optou por prisão perpétua.
Três anos depois, a polícia descobriu uma mulher de 44 anos morta
com o rosto virado para baixo em sua cama. Uma corda amarrava seus
pulsos às costas e o fio estava apertado em volta de seu pescoço com um nó
de correr atrás. A corda continuava sobre seu ombro direito e para baixo
pelas costas, e dava então três voltas em cada pulso. Cientistas forenses
explicaram que ela morreu estrangulada pela corda e havia sido estuprada.
O assassino deixou o corpo exposto. Parecia ter gastado muito tempo na
cena do crime. Este assassinato ocorreu a quatro quadras daquele de 1984.
Vasquez já estava preso há três anos.
O departamento policial de Arlington, Virgínia, requisitou para o
National Center for the Analysis of Violent Crime (NCAVC) uma extensa
análise desses dois casos, outros estupros em série e muitos outros
assassinatos ocorridos entre 1984 e 1987. Ficou provado que esta
“assinatura” não era de Vasquez e sim de outro suspeito local, e Vasquez foi
libertado e inocentado deste crime.

Encenação
Quando investigadores se aproximam da cena do crime, devem
procurar por pistas de comportamento deixadas pelo criminoso.

Várias questões precisam ser respondidas: como se encontraram vítima
e criminoso? O criminoso emboscou a vítima ou a trapaceou, como por
exemplo se fingir de polícia, para capturá-la? Amarrou-a para controlá-la?
Qual foi a seqüência de eventos? A vítima foi estuprada antes ou depois de
morrer? As mutilações foram feitas antes ou depois da morte? O criminoso
adicionou ou retirou alguma coisa da cena do crime?
Alguns detalhes encontrados nas cenas de crime são desconcertantes e
contêm minúcias que aparentemente não têm nenhum propósito para a
execução do ato criminoso e que ainda obscurece mais o motivo dele. Esta
confusão se dá quando o criminoso “organiza” a cena antes da chegada da
polícia, alterando-a. É como se arrumasse um palco para uma apresentação
teatral.
Essa encenação tem como objetivo afastar a polícia de um suspeito em
particular, para proteger a família da vítima ou a própria vítima. É um
criminoso que não apenas atacou uma vítima, mas que a escolheu por
alguma característica particular que se relaciona com ele, ou tinha algum
tipo de relacionamento ou associação com seu alvo. Em geral, quando esta
pessoa for procurada pela polícia na ordem de investigação dos fatos, será
extremamente cooperativa ou estará totalmente transtornada pela perda.
Assim sendo, investigadores não devem jamais descartar inconsoláveis
viúvas ou amigos interessadíssimos em esclarecer o crime.
O segundo motivo para a encenação é proteger a vítima ou sua família,
e ocorre na maioria das vezes em estupros seguidos de morte ou acidentes
auto-eróticos. A encenação, então, é feita por um membro da família que
encontra o corpo, uma vez que é comum que alguns criminosos deixem suas
vítimas em posições degradantes. Quem encontra o corpo pretende devolver
alguma dignidade para a pessoa morta, como por exemplo um marido que
cobre ou veste o corpo nu da esposa.
Estas pessoas não têm má intenção, elas apenas estão tentando prevenir
o choque que pode causar aos outros familiares a posição da vítima, sua

vestimenta ou falta dela, e suas condições. Também podem fazer com que
um acidente auto-erótico possa ser interpretado como homicídio, até mesmo
escrevendo uma carta de despedida ou, pior ainda, fazer com que se pareça
com um suicídio.
Nesses casos, o investigador deve obter uma acurada descrição de
como foi encontrado o corpo e determinar exatamente o que a pessoa que o
encontrou alterou na cena. A vitimologia pode revelar as reais circunstâncias
do assassinato e ajudar na identificação do criminoso.
Em algumas cenas de crime, os investigadores devem discernir entre
uma cena realmente desorganizada ou se houve por parte do criminoso uma
simulação para que aquela pareça casual e descuidada. Esse fator ajudará na
montagem do perfil criminal, mas o discernimento pode ser muito difícil
quando se trata de um criminoso muito astuto.
Existem alguns sinais que devem chamar a atenção dos investigadores
e alertá-los de uma possível encenação. Os criminosos que encenam as cenas
freqüentemente cometem erros, uma vez que arrumam o local como eles
“acham” que deveria estar, ou que seria normal estar. Eles estão sob grande
stress e com muita pressa, portanto sendo difícil colocar tudo em uma ordem
lógica. Assim, inconsistências podem aparecer e indicar aos investigadores
que aquela cena provavelmente foi alterada.
Eles devem analisar todas as evidências em separado e depois no
contexto total, incluindo-se aqui a atividade do criminoso, como entrou, sua
interação com a vítima e como arrumou o corpo.
Vários fatores devem ser considerados, como por exemplo se o motivo
aparente foi assalto, algo estranho foi levado ou deixado?
Em um caso analisado pelo NCAVC, um homem voltando para casa
após o trabalho flagrou um assaltante em sua casa e foi morto por ele na sua
fuga. O assaltante não levou nada, mas parecia estar desmontando um
grande aparelho de som e TV. Num inventário mais acurado, a polícia
percebeu que bens pequenos e de maior valor do que o aparelho de som

foram deixados para trás, apesar de serem facilmente transportáveis (jóias,
coleção de moedas, etc). Depois da investigação, a polícia concluiu que a
esposa do morto pagou ao assaltante para assassinar seu marido neste
assalto encenado. Na verdade, ela estava tendo um caso com um dos
suspeitos.
Outro ponto que merece bastante atenção é o modo de entrada no local
do crime. O criminoso entrou pelo modo mais fácil? Escolheu uma entrada
onde pudesse ser facilmente visto pela vizinhança ou por alguém que
chamaria a polícia?
Deve também ser observado se o criminoso se colocou em alto risco
cometendo o crime à luz do dia e em local movimentado.
Sinais de alerta forenses devem também ser investigados quando não
se ajustam ao crime, indicando assim encenação. Ataques pessoais durante
assaltos levantam suspeitas, especialmente se ganhos materiais parecem ser
o motivo inicial. Esses assaltos podem incluir o uso de armas oportunas,
estrangulamento manual ou por fio, rostos espancados e trauma excessivo
daquele necessário para causar a morte (overkill). Em outras palavras, os
ferimentos se adequam ao crime?
Homicídios domésticos e sexuais usualmente são encenados como se
fossem ataques pessoais durante assaltos de bens.
Devemos levar em conta que o assaltante, que é “perturbado” na
execução de seu plano, mata de forma limpa e rápida, uma vez que seu
objetivo não é a vítima em si, mas sim o objeto do roubo. Além disso,
diminui o seu tempo de permanência na cena do crime.
Já nos homicídios domésticos e sexuais, é a vítima a prioridade do
criminoso; ela recebe grande atenção e demanda tempo.
Outra discrepância que merece atenção ocorre quando a história da
testemunha não coincide com os fatos encontrados na autópsia. O
depoimento do sobrevivente é de importância na análise dos fatos.
Um homem foi encontrado afogado numa banheira com a água ainda

correndo e um ferimento na cabeça. A primeira impressão era de que o
homem ia tomar banho, e ao entrar na banheira escorregou, desmaiou e se
afogou. Na autópsia, alguns fatos novos chamaram a atenção da polícia:
havia vários ferimentos na cabeça e foram encontradas nas análises do
sangue altas dosagens de Valium, um sedativo poderoso. Insistindo então
no interrogatório da ex-esposa, descobriram que esta havia estado com o ex-
marido naquela noite. Mais tarde, confessou que temperou a salada dele
com aquele sedativo no jantar, e quando ele ficou desacordado ela deixou
três homens previamente contratados entrarem na casa, matarem o marido e
fazerem parecer com que se tratasse de um acidente.
Os investigadores freqüentemente encontram discrepâncias no caso de
encenação de estupro seguido de morte. Se o criminoso for próximo à
vítima, ele nunca a deixará completamente nua e exposta, coisa que
raramente acontece em homicídios verdadeiramente sexuais. Além do mais,
apesar da posição do corpo e da retirada de algumas roupas, a autópsia
pode confirmar ou negar se alguma forma de ataque sexual aconteceu ou se
a cena do crime foi montada.
Se os investigadores suspeitarem que a cena do crime foi montada,
devem procurar por sinais que associem a vítima ao criminoso, ou, como é
freqüente em casos de violência doméstica, o envolvimento de uma terceira
pessoa, em geral aquela que encontrou o corpo. O criminoso manipula para
que o corpo seja descoberto por outro familiar ou vizinho, ou para
convenientemente estar acompanhado por alguém quando da descoberta da
vítima morta.
Quanto mais conhecimento os investigadores tiverem sobre todos esses
fatos, mais equipados estarão para fazerem as perguntas certas para
obtenção da verdade, verem a história do crime em cada cena que
analisarem e encontrarem o criminoso.


Exemplo Real de Encenação
Num sábado pela manhã, na pequena cidade de Northestern, um
intruso desconhecido atacou um homem e sua mulher. Tudo levava a crer
que o desconhecido, colocando uma escada no lado de fora da casa, pareceu
subir por ela até o terraço do segundo andar, removeu a tela da janela e
entrou. Tudo isso aconteceu numa área residencial, em uma hora do dia em
que os vizinhos estariam fazendo suas tarefas de fim de semana.
O marido alegou ter ouvido barulho no andar de baixo, e foi armado
com um revólver para investigar. Uma luta entre a vítima e o assaltante
começou, e ela foi deixada inconsciente como resultado de uma pancada na
cabeça.
O assaltante então subiu as escadas e matou a esposa estrangulando-a
manualmente. O corpo foi deixado com a camisola levantada até a cintura
da vítima, levando a crer que a havia atacado sexualmente. A filha de 5 anos
do casal dormia no quarto ao lado.
Na investigação e análise da cena do crime, os detetives perceberam
que não havia marcas da escada no chão úmido ao lado da casa, mas quando
tentaram subir por ela imediatamente o chão ficou marcado. Além disso, a
escada estava ao contrário e muitos degraus de madeira estavam podres,
tornando impossível agüentar alguém pesando mais de 25kg.
A cena do crime também levantava questões que não podiam ser
respondidas com lógica: por que o criminoso escolheu entrar pelo segundo
andar e não pelo primeiro, aumentando as possibilidades de ser visto pelos
vizinhos? Por que assaltar numa manhã de sábado? Por que escolher uma
casa em que os carros estavam estacionados na garagem, demonstrando que
os ocupantes estavam dentro dela?
Dentro da casa, outras inconsistências foram observadas: se a intenção
era assassinato, por que o criminoso não procurou as vítimas assim que
entrou, e sim desceu as escadas para o primeiro andar?
Também não tinha vindo equipado para matar, porque de acordo com

a testemunha, o marido, nunca sacou um revólver. Além disso, a pessoa que
mais ameaçava o criminoso era o marido, e este só recebeu ferimentos leves.
Nessa análise, que revelou grande atividade do criminoso e nenhum motivo
para o crime, a polícia concluiu que o marido encenou o homicídio para
fazer parecer ser trabalho de um intruso, e não dele mesmo. Foi condenado
pelo assassinato de sua esposa.